Cada um com seu babado (de lingerie)
Por Rebeca
Existem vários graus de preconceito e uma pessoa que se sinta muito liberal em relação a algumas “regras” pode, algumas vezes, torcer o nariz ou se chocar com outras, de acordo com seus valores, como foi criada, o meio em que vive. É como o cara que um dia se despiu de preconceito e resolveu deixar a parceira enfiar o dedo no seu cu. Um dos nossos leitores contou essa história (maravilhosa, por sinal) aqui no blog. Alguns desses homens que deixam a parceira brincar naquela área podem já ter achado isso o grau máximo de liberação e não topam, por exemplo, um ménage com dois homens e uma mulher.
Isso tudo para perguntar: como você, homem, hétero ou gay, encararia lingerie para homens? Sim, lingerie com fio dental, espartilhos e babados, iguais às nossas. Entre todos esses graus de preconceito que temos, eu me peguei pensando em dois grupos, dentre os mais diversos possíveis: 1) O cara é hétero, machista e tem vergonha de se aventurar com a parceira com medo de perder o “respeito”. Então, cu nem pensar. “Eu como o seu, mas você nem chega perto do meu”; 2) O cara é hétero também, já topa dedo e objetos no cu com a parceira, mas colocar lingerie? “Peraê, tá achando que eu sou mulher”.
Eu tentei me colocar dentro da cabeça de vários tipos de homem ao ler a notícia de que marcas estão fazendo lingerie para eles. Uma delas, a australiana HommeMystere, foi até notícia na imprensa britânica. A reportagem, de maio deste ano, diz que uma pesquisa com consumidores da marca mostrou que 90% deles eram heterossexuais. Outra empresa é a HS Men’s, com sede em Minas Gerais, e soubemos dela por um e-mail que chegou na caixa de entrada do nosso e-mail. E a terceira é a britânica Mensline, mais discreta, sem opções de sutiã. Mas todas vendem lingerie “feminina” com design para eles: pano sobrando na frente para segurar o pau. Comentei com dois amigos sobre a novidade, um com quem transo frequentemente e outro não, e ambos ficaram chocados. São homens liberais, por assim dizer. Mas é aquela velha história: pô, aceito até dedo no cu, lingerie é um pouco demais.
HommeMystere/Divulgação
Afinal, o que é um pouco demais? Eu não curti o lance da lingerie, e explico mais abaixo os meus motivos. Mas isso não pode distorcer a minha abertura de cabeça. E se o cara está a fim de usar com a/o parceira/o (e ela topa), qual o problema? Isso faz dele menos homem? Quantas fantasias malucas temos na nossa cabeça… Por que uma mulher colocar um terno, brincar de chefe da relação e mandar no cara não significa que ela seja “gay”, “machão” ou sei lá o quê, e um homem colocar uma cueca diferente sim? Isso não quer dizer que o cara vai virar transgênero e se vestir de mulher em público (mesmo que depois ele queira fazer isso). Nem significa que vai deixar de gostar de mulher (mesmo que depois, por outras razões, deixe)…
Mensline/Divulgação
Eu, particularmente, não acho muita graça na lingerie masculina porque prefiro uma cueca boxer. Simples assim. Adoro a cueca masculina e adoro a ideia de um cara bem masculino me comer. Posso brincar na região anal dele, se isso lhe dá prazer, e não vou achá-lo menos macho por isso. Mas o visual é uma coisa que excita ou brocha muito facilmente. Já escrevi aqui, num post sobre lingerie de mulher, que não tem santo que ajude o pau a subir quando a garota está com uma calcinha de vó daquelas, velha e esgarçada. Ou cheia de bolinhas infantis. Para mim, é a mesma coisa com o homem. Não quero homem de fio dental na minha cama. Mas respeito por demais a mulher que curte o cara que curte essas coisas. Mundo, mundo, vasto mundo…
HS Men’s/Divulgação
Nessas de criatividade além da conta, eu me lembrei de uma história hilária que aconteceu na despedida de solteira de uma amiga. Anos atrás, uma das madrinhas resolveu encomendar um gogo boy para fazer um show particular para a gente. Era a casa da noiva, sem os pais dela, todo mundo morrendo de vergonha de imaginar um gogo boy feio e decadente entrando pela porta e, para esquecer essa cena e tomar coragem para o que viria, a gente entornava toda a vodca que via pela frente. Quando o cara chegou e interfonou, o porteiro disse do lado de lá: “Senhorita Fulana, o rapaz da companhia de internet”. E o cara, para despistar, chegou com o uniforme daquela companhia famosa, todo azulzinho, com uma maleta de “cabos e ferramentas”.
Chegou mudo, não falou uma palavra, abriu um sorriso malicioso, as meninas ainda estavam falando alto, não tinham entendido que o show havia começado desde que ele tinha entrado pela porta. Ele abaixou no chão, abriu a maleta, as meninas foram fazendo silêncio, daí ele separou um chicote, uma corda, umas outras coisas… Ainda no chão, ligou a caixa do iPod e colocou para tocar uma versão longa de “Sexual Healing”, de uns 15 minutos. Levantou-se e começou a rebolar, de forma sexy e compassada, ainda mudo, nem tinha falado o nome. Aliás, nome para quê?
HommeMystere/Divulgação
Eis que a música vai se alongando e ele vai tirando a camisa, os sapatos, peitoral maravilhoso, com ondinhas nos músculos treinados na academia, mas sem exageros. Era alto, tinha uns 1,90, e a calça apertada revelava um volume gigantesco. Até pensei que era aquelas brincadeiras de criança de colocar uma bola de meia no meio da cueca, hahaha, estávamos bêbadas. Eis que ele dá uma rebolada, se volta de costas para a gente e abaixa a calça. Vemos uma tanga minúscula, enfiada no cu, laranja. Ele se vira rapidamente de frente, a tanga parece minúscula ali também, pano apenas suficiente para segurar o pau e as bolas, que quase saem do invólucro.
HS Men’s/Dvulgação
Na hora, me vem à cabeça Fernando Gabeira com sua tanga de crochê lilás na década de 1980 na praia de Ipanema. E me lembro de Borat, aquele comediante ridículo que se mostrou para o mundo com uma tanga fio dental-suspensório verde-limão. Gente do céu, que visão dos infernos! Nesse momento, eu desato a rir, primeiro baixinho, sem respirar de tanto que queria rir. Quando finalmente peguei fôlego, eu já estava gargalhando. Amigas bêbadas se contagiaram com aquilo e riam muito também.
HommeMystere/Divulgação
O resultado foi ridículo: o moço ficou um pouco constrangido, a minha amiga noiva (que já não estava topando demais essa história de gogo boy) ficou mais constrangida ainda e pediu para ele ir embora… A gente riu (e bebeu) até o amanhecer. E rimos até hoje quando tentamos explicar pro marido da nossa amiga que aquela noite foi um fiasco. Ele não acredita, claro.