Sexo (e amor!) para todes!
Por Carmen
Junho é o mês do orgulho LGBTQIA+. O termo, que vem sendo atualizado ao longo de décadas, reconhece todas as formas de expressão da sexualidade e do gênero contidas em um corpo deliciosamente humano. Se você sabe do que estou falando, ou se ainda não compreende o universo que pode caber em nós, sugiro que se deleite com as próximas linhas. Historinhas de amigos, conhecidos e desconhecidos, que gosto de ouvir e colecionar. Por um mundo diverso, cheio de cor e respeito. Um sussurro ao pé do ouvido: pode dar um tesão imenso saber – de peito aberto – do tesão de cada um de nós…
Estava em um jantar quando conheceu um advogado interessantíssimo. Amigo de amigos. Não levou uma semana, recebeu uma mensagem. Insistindo em um café, ainda que sabendo do compromisso do designer com seu companheiro. Finalmente encontraram-se. E sentiram a mesma atração, de tirar o ar. Beijaram-se. A sós, chuparam-se, seguraram com firmeza o pau um do outro. Transaram. Cada movimento, um por dentro do outro. Gozaram intensamente.
Eram amigas, saíam com a mesma turma. Uma delas acumulava experiências heteronormativas. A outra, já havia beijado uma menina. Se aproximaram, sem perceber, cada vez mais. As conversas eram incríveis, a companhia, uma delícia, a conexão profunda. Até uma noite, em que riam gargalhadas depois da segunda garrafa de vinho. “Você está bem?”, uma perguntou à outra, em um gesto mútuo de desejo e consentimento. As mãos dadas, a respiração ansiosa. Quase se ouvia as batidas de cada coração. Acariciaram-se, beijaram-se. E descobriram juntas uma nova galáxia dos sentidos (com a sabedoria de quem conhece antes a si). Orgasmos múltiplos pela vida afora.
“Tudo bem que eu também goste de meninos?”, ele declarou. O “sim” que recebeu de volta lhe trouxe uma das relações mais libertadoras e livres de sua trajetória. Amou aquela namorada profundamente. Ora como sua mulher, ora como parceira de suas vontades e experimentações. Sozinho ou acompanhado. Entre eles, o sexo era mais uma maneira maravilhosa de criar conexão. Com a vida e tudo o que o corpo é capaz de proporcionar; prazer em todas as formas.
A transformação se deu aos poucos. Primeiro, era um guri com rosto de guria. Logo passou a usar maquiagem, fazer as unhas lindamente, deixar os cabelos crescerem. Houve a fase da aparência andrógina. A vontade de se testar mais como mulher. Mudou as roupas, encontrou o próprio modo de se movimentar. E de tudo tão natural e bonito, atraiu um homem querido. Apaixonado pela sensualidade sem um contorno exato. Dois corpos masculinos, mas com uma energia feminina muito presente. Aceitaram-se. Amaram-se. E foram felizes juntxs.
Nunca sentiu identificação com seu gênero de nascimento. A medida em que crescia, os amigos da escola chegavam a perguntar: “Você é menino ou menina?”. Ficava incomodado desde muito cedo em precisar definir. Talvez fosse os dois, talvez não fosse nenhum. Tinha traços delicados, a voz firme e os olhos mais enigmáticos que se pode ter. Linda. Lindo. Lindes. Cresceu, e apesar de tanto, conquistou um estado de felicidade. Sem rótulos, regras, formas ou padrões. Mas absolutamente consciente do fascínio de sua presença. Ao menos para quem possuía olhos de ver e coração de sentir.