Confissões de uma recém-separada em quarentena
Por Carmen
“Não sei você, Carmen”, escreveu minha amiga recém-separada, “mas ando impressionada com todas as conexões que surgiram durante este período interminável de (um necessário) isolamento social. Amigos de infância, da época da escola, do bairro onde cresci. Um dos antigos camaradas do meu ex. Um namorado de mais de vinte anos atrás. Homens solteiros, homens que namoram, um homem casado, um divorciado – outro de status ainda não conhecido.
O comportamento é parecido. Todos começam observando minhas postagens (e eu nunca postei tanto!). De repente, um dia, encontram uma deixa para enviar “uma reação” ou um comentário inbox pelo Instagram. Começam uma conversa. Uns revelam algumas de suas memórias comigo, alguém arrisca um elogio, depois some; igualzinho fazia na nossa adolescência. Há os que falam apenas do momento presente.
Tem um em especial, que me deseja um “boa noite, dorme bem”. Duas vezes já. E eu de fato durmo, alegre com esse carinho inesperado e deliciosamente virtual. Um outro amigo conta, pelo Whatsapp, que sonhou comigo na última noite… E eu tento interpretar em mim o que isso pode me dizer. Quando me sinto mais sozinha, escolho um deles para uma fantasia particular.
Acendo uma vela, seleciono uma playlist no Spotify, deito na cama e começo a acariciar meu corpo. Imagino como ele, o personagem que me habita, gostaria de me tocar. Penso como deve ser seu corpo nu, sobre o meu. Em que momento decidiria tirar toda a minha roupa, como é o gosto do seu beijo, mais intenso ou mais racional. Ah. E se gosta de segurar firme no meu quadril enquanto me penetra (eu adoro), ou é um iniciado na fundamental arte de chupar por horas uma mulher. Bem gostoso.
Algumas vezes o personagem muda durante a transa, algo que não planejo ou controlo. Outras, dou uma espiada naquela foto de perfil (nada como uma certa dose de realidade, não é mesmo?). Continuo esse sexo diáfano, alternando entre meus vibradores. Sugador de clitóris pra começar, o delicioso “rabbit” vai-e-vem para continuar. Se estou animada, sigo com o estímulo do “bullet”, por cada dobrinha em mim, incluindo o bico dos meus seios. E finalizo, ou não, com meu querido pênis; grosso, flexível, de mais de 20 centímetros de prazer. Este reservo para noites mais encharcadas.
Gozo. Uma, duas, de vez em quando algumas vezes. Depois, acho graça. E sempre acordo com um sorriso de quem guarda um segredo no rosto. Afinal, antes da pandemia, tudo parecia mais complexo. Quando as pessoas, livres, por hábito ou ilusão, preferiam fechar o coração. Tinder, pra quê (risos)? Sigo em frente. Agradecendo o privilégio da vida, apesar de tanto, e imaginando com qual deles vou querer me encontrar – primeiro!”