O melhor sexo da sua vida: um manifesto
Por Carmen
Não importa como você goste de nomear (sexo, amor, transa, affair). Nem as fantasias – ou realidades – que te excitem mais, ou te façam gozar rápido, devagar, loucamente… O ato sexual entre duas ou mais pessoas pressupõe uma única condição fundamental: a troca. E portanto, o consentimento.
Pois a gente não poderia seguir com a programação habitual de relatos picantes sem uma pausa tão necessária para um manifesto pelo sexo bom. Voltar algumas casinhas para lembrar, relembrar e reforçar até a exaustão, do que se trata a liberdade dos corpos, do desejo, da libido de cada um.
Pensei um tanto até escrever essas linhas para você. E decidi abrir este espaço para ajuda-lo a refletir conosco do quanto é possível viver histórias cada vez melhores na cama e fora dela; a partir de uma conduta saudável e que só faz bem.
Essa semana o caso de uma garota de 23 anos, Mariana Ferrer, que com todas as provas necessárias de que foi estuprada pelo empresário catarinense André de Camargo Aranha, em 2018ocupou a mídia e as redes sociais diante da humilhação que advogado de defesa, promotor e juiz a fizeram Ferrer passar.
Além de um veredito com uma interpretação inédita, falaciosa e com o risco de abrir precedentes perigosos para um retrocesso imensurável na justiça brasileira. “Estupro culposo”, como definiu o site que vazou o vídeo da audiência; teoricamente, sem a intenção de estuprar (de drogar, de usar um corpo inerte para um prazer baixo e narcisista, de romper o hímen de uma menina virgem e ejacular dentro dela, de machucá-la, e depois, abandona-la sozinha numa área privada de uma casa noturna, alegando mais tarde, que ela mereceu esse tratamento, a julgar pelas fotos de suas redes etc.).
Ainda recente, houve o escândalo envolvendo o jogador Robinho, contratado pela equipe do Santos enquanto responde por um processo de violência sexual na Itália. Polêmica que ganhou tintas mais dramáticas após o próprio declarar que “infelizmente, existe esse movimento feminista”. Uma conclusão bastante simplista.
A exemplo do que aconteceu em 1976, no Rio de Janeiro, com o assassinato de Ângela Diniz, a tiros pelo ex-namorado, conhecido na época como Doca Street, que se livrou inicialmente da cadeia, ainda que tenha confessado o crime, com a alegação de que estaria apenas agindo em “legítima defesa da honra”. Um novo julgamento após a pressão da opinião pública condenou o playboy a 15 anos de prisão. Uma tristeza sem fim. Basta mencionar a informação de que, a cada 8 minutos, uma mulher é estuprada no Brasil (de todas as classes sociais, vale reforçar).
O que nos faz precisar sim falar sobre isso. Ter a coragem de nomear corretamente os fatos e a disposição de discutir a base de tudo o que nos traz até aqui. A humanidade do século 21.
Sexo deveria ser a vontade genuína que adultos têm de viverem uma experiência sensorial juntos. E portanto, respeitando as vontades, mas acima de tudo, os limites de cada um. Porque sexo fenomenal é aquele que consegue olhar para o outro, compreendendo a potência de saber dar, para receber respeito, prazer, carinho, aceitação. Mesmo que apenas por uma noite (ou um instante).
Se você ainda tiver alguma dúvida, ou achar um certo exagero, recomendamos que assista a gravação do julgamento (basta fazer uma breve pesquisa). Também, que comece a conversar com mulheres – e homens – da sua intimidade. Pergunte honestamente sobre como aconteceu sua construção sexual, na infância, na adolescência, mais tarde. Peça para contar algumas das piores abordagens que recebeu, a maneira como namorados, “ficantes” ou desconhecidos a trataram. Inclua na lista familiares, médicos, terapeutas, massagistas, taxistas e um sem fim de gente (quem é mulher sabe do que estamos sugerindo). Falem das recordações mais traumáticas.
Por fim, pense na sua própria formação neste tema tão delicado – e que nos deixa, todos, tão vulneráveis no sentido de estarmos literalmente desnudados de qualquer subterfúgio ou máscara social. Como foi a sua primeira vez? Com quem? E antes dela, você aprendeu a se masturbar assistindo pornografia? Acha mesmo este modelo excitante e viável? Quando considera que passou a conhecer de fato o funcionamento do seu próprio corpo (ou mente)? E o do outro? Você tem filhas ou filhos? De que maneira pensa em educá-los? Agora pense sobre a vida de quem te deu a vida… Considera a sua mãe uma mulher realizada? E seu pai? Por quê?
Em tempo, que fique muito claro: a gente adora se sentir linda, desejada. A gente adora beijar na boca, tirar a roupa, ser chupada, penetrada. A gente adora ficar de quatro para um homem incrível, que se preocupe em estarmos bem e curtindo cada movimento junto com ele. A gente adora dar prazer e ver cada centímetro do seu (e do nosso) corpo transbordar de tesão. Pela vida.
Aqui, a gente se propõe a isso. Falar de sexo, liberdade e a felicidade de ser o que se é. Sem tabus, preconceitos, sexismos, disputas de poder ou de uma atenção infantil. E nunca vamos estimular interpretações distorcidas das nossas aventuras. Porque acreditamos na mágica do encontro possível entre as pessoas.
A gente garante: se você puder se abrir profundamente para uma troca verdadeira, com respeito, com quem quer que seja, pelo tempo que seja, no lugar que seja, terá para sempre a melhor trepada da sua vida! (E da dela, da dele, de todxs…)