Desejo de um ano louco
Por Carmen
O clima está abafado de novo, e já é noite. Estou sozinha em casa, como tem acontecido nos últimos meses (sete no total, mais catorze dias; não consigo evitar de contar). Tem sido mais difícil agora, não sei bem o porquê. Sim, há um aparente comportamento de retomada no mundo lá fora. E algo em mim está diferente, dentro. Uma ebulição, um desejo de me sentir viva novamente – muito além de me saber sobrevivendo.
Penso em você, de repente. Talvez por ser a minha ideia mais concreta de um encontro possível, há muito desejado. O que me faz imaginar mais detalhes de um reencontro nosso… (Faz quase dois anos desde a última vez; e você ainda era comprometido.)
Tomo um banho demorado, à luz de velas. O sabonete lento em cada curva do meu corpo, depois a toalha. Passo um hidratante. O perfume em pontos estratégicos: atrás das orelhas, entre os seios, abaixo do umbigo e no início do bumbum. Escolho a lingerie. Preta, de renda, um clássico. A calcinha, fio dental. Coloco um vestido soltinho, mas com um decote – supostamente despretensioso. Quero parecer natural até te encontrar no horário combinado.
No restaurante, a conversa flui como dois bons amigos que de fato se conhecem há anos, embora de um outro jeito. Torço por você. E você torce por mim, sabemos. Tento perceber algum sinal seu, mas ainda não sei decifrar seu olhar. Não percebo o tempo passar, e ele acaba, de acordo com os novos protocolos dessa quarentena interminável. Ao menos, pudemos sair e conversar um pouco.
Estamos na porta do restaurante, nos despedindo, e você me convida pra conhecer seu apartamento novo. Um arrepio passa por mim, como acontece sempre que vislumbro uma história deliciosamente secreta. Afinal, conhecemos bem o passado de cada um de nós, assim como nossos antigos personagens, que não poderiam conceber um rearranjo como este nosso…
Chegamos. Você abre a porta e sorri. Escolhe um vinil do Bob Dylan, pega mais uma cerveja, com aquela leveza no rosto de quem encontra uma desculpa para agir de uma maneira mais relaxada. Eu peço um gole. E você me surpreende com um beijo aromatizado. Estou um tanto nervosa, e isso é tão bom. Como se ainda fosse uma menina inexperiente.
Você me abraça em silêncio, e mal consigo respirar quando sinto seu pau pressionando o meu corpo. O desejo é enorme. Um universo de acontecimentos desde a minha última transa.
Você abaixa minha calcinha e me acomoda na sua poltrona predileta. Num misto de constrangimento e vontade, eu me revelo pra você. As pernas bem abertas, e o que há de mais vulnerável em mim. Gosto da sensação. Porque para quem tem olhos de ver, pode ser sublime desnudar-se de todas as máscaras e vestes.
Acho que você compartilha dessa descoberta comigo, a cada lambida em mim. Ora mais devagar, de repente, mais rápido e intenso. A certa altura, peço para parar. Quero retribuir à altura. Escorrego até o chão e começo a te chupar. Que delícia, um pinto na minha boca.
Ouço seus gemidos ainda tímidos, fico cada vez mais molhada. Também sinto o seu tesão. Não me demoro, estou sobre você. Abro bem os olhos, te beijo na boca de novo. Coloco suas mãos ao redor da minha cintura e me movimento suave, bem fundo, para te dizer sem palavras do firmamento que pode haver em nós. Não demora, a gente goza. Debaixo das estrelas. Porque rápido pode ser sublime.
(E porque ainda temos ao menos uma madrugada inteira pela frente, diante de todas as constelações que nos trouxeram até ali.) E assim foi, e assim é.
“Oi, tudo bem por aí?”, tomo coragem e escrevo. “Tudo. E você?”, leio de volta, não leva dez minutos. “Preciso de você em mim”, penso, mas não te falo. E sigo puxando assunto no WhatsApp…
Falamos desta pandemia sem fim, da rotina dentro de casa, de aprender a seguir com a vida de um jeito possível, apesar de tudo e tanto. Parece que você também está solitário nesta noite quente. E você me diz que está começando a sair um pouco mais. Quem sabe, da gente marcar um jantar em breve… E assim será.