Quando a liberdade é outra
Por Carmen
A época era outra, eu era outra. Imagina, troca de casais em um ambiente fechado, com muito suor e outros fluídos. A ideia já me deixava levemente tensa lá atrás.
Mas o mundo era outro, a idade era outra, e eu estava na minha fase mais intensa de experimentação. Tinha pavor de não aproveitar oportunidades na vida. Então, quando C. parou o carro na rua escura de Moema, em frente à casa noturna cafona, eu topei sair do carro e entrar.
A princípio, parecia somente isso: um lugar como outro qualquer, um karaokê, uma balada do Centro. Comecei a beber vodca com energético como se fosse a última coca-cola do deserto e relaxei.
Teve um showzinho de striptease no meio da pista. OK, era divertido assistir aquela ceninha com ele, mas saquei que aquela era a fase de ambientação para mim. Tinha coisa mais hardcore rolando em outras partes daquela casa.
Passamos pelas suítes, sem realmente parar ou entrar, bancado voyeurs pouco dedicados de algumas transas a dois ou a três.
Depois de passar pela iniciação, eu já estava pronta para o labirinto, onde minha experiência com swing realmente se deu. A sacanagem de pintos anônimos enfiados em buracos aleatórios pelo caminho foi interessante, como se estivesse no trem-fantasma do parque de diversões e figuras inesperadas e grotescas aparecem, mas eu sentia algo a mais além do frio na espinha: a aflição entre as pernas estava ali, me fazendo querer deixar minha roupa pelo caminho, tocar aqueles paus quentes e pervertidos.
Em um canto sem saída do labirinto, encontramos um casal. Não vou saber descreve-los, a luz negra não dava detalhes à visão já turva. C. estava colado em mim, por atrás. O outro par estava no mesmo tipo de engate, nos aproximamos e nos apertamos em um sanduíche. Meu corpo grudou no da garota, que era mais baixa que eu, enquanto o homem desconhecido explorava em corpo com as mãos. Eu não tinha ideia do que C. fazia com as dele, era muita informação.
Eu me excitei colada àquela mulher anônima. Fui com avidez acariciar seus seios, como uma familiaridade que eu não tinha. Eram bem menores do que os meus. Empolgada, eu meti no nariz em seu pescoço. O cabelo cheirava recém-lavado com shampoo barato, e quando nos soltamos, minhas calças, de algum modo, já estavam no meio das canelas, calcinha junto. O par dela me conduziu para a parede, de costas, notei o movimento de quem coloca a camisinha. Nesses segundos de pausa, travei. EU não queria ser penetrada por esse desconhecido. Estava curtindo mais o fato de me pegar com a garota, uma novidade para mim. Não queria transar com ele e, constatei, sentia também repulsa à ideia de C. comer a menina.
Quando eu comecei a rejeita-lo, a menina falou, pela primeira vez ouvi sua voz: “Amor, me avisa se ela não deixar que eu não deixo também”. Havia regras, era uma troca, afinal.
Meu limite era outro, minha liberdade era outra. Sai do labirinto e fui comer um petit gateau semicongelado com sorvete de creme de péssima qualidade, enquanto C. circulava mais um pouco por lá.