Cenas sexuais de um casamento
Por Carmen
Ele sai do banho, a porta do banheiro aberta, passa a se enxugar na soleira, pingando um tanto no porcelanato, outro no assoalho de madeira. A barba – já grande – parece ter ganhado uns cinco centímetros a mais. Os pelos molhados estão grudados também nas canelas, nas coxas, ao redor do pênis, solto majestosamente à frente das bolas, igualmente imponentes.
A pele do colo dela tem um brilho que atrai ao toque quando tira a camiseta de algodão e releva os seios fartos, macios, que há meses não vivem a prisão do sutiã. Logo vem o gesto involuntário, tão dela, de passar uma mão por baixo de cada mama, fazendo um leve massagear. Depois tira a calça, fica só com a calcinha rosa de babados e, então, serpenteia o corpo sob os lençóis.
A TV está ligada, roupas estão espalhadas pela bancada diante da cama. É noite de quarta-feira, ano de 2020, tempos de isolamento social.
A pandemia foi ruim para o sexo. Estresse, medo de morrer ou perder alguém para uma doença incompreensível não contribuem com a libido. Todos os estímulos que casais de longa data lançam mão para rodar os pratinhos do relacionamento foram cancelados por tempo indeterminado: a saudade depois de um dia longe, a saidinha pra jantar no restaurante charmoso, a babá para o vale-night.
Foram mais dias de letargia do que de gozo nesta quarentena interminável, mas, quando estão prestes a se convencer que vai ser assim daqui para frente, sexo meia boca, prazer mediano, apenas a lembrança do fogo de outros tempos, eles se viram de lado, um de frente para o outro, numa noite qualquer, de uma semana qualquer. E vem os beijos, primeiro estranhos, sem graça, mas que vão ganhando estímulo e companhia das pernas entrelaçadas, da mão que acaricia o pau, da rigidez e ousadia.
Transam devagar, mas gozam rápido, na familiaridade, na certeza de saberem o que gostam, como gostam, independentemente das transformações.