O toque suave na virilha
Por Carmen
A gente subia a Padre João Manuel conversando. Não me lembro de sentir cansaço por estar, ao mesmo tempo, falando e caminhando várias quadras em aclive. Era um primeiro encontro, estava dando tudo certo e meu corpo estava todo estava eletrizado. Eu queria entrar no primeiro hotel, prédio ou cinema da Paulista e ficar sozinha com ele, sem testemunhas, para ver o que aconteceria. Eu não intuía, mas sabia ainda, estava em um dos momentos mais excitantes dos meus, então, 20 anos de vida.
A gente já tinha se encostado, mas não tinha virado beijo. Aquela segurada no braço, na descida de uma escada. Um roçar na nuca, quando minha gargantilha resolveu dar uma mãozinha para o feitiço todo, escorregou do meu pescoço e ele me ajudou a recolocar, cuidando do fecho. Eu ansiava por mais e sentia um pulsar no meio das pernas.
Chegamos a uma esquina mais residencial e a calçada estava deserta. Nem carros passavam na rua. A gente parou, se olhou, se beijou. Ele me pegou de leve pelas ancas. Eu não lembro o que fiz com os braços, mas ele, experiente que só, fez um gesto que me deixou louca. Escorregou a mão bem suavemente na diagonal e parou com o dorso dos dedos – não todos, um ou dois – na minha coxa, a alguns centímetros da minha virilha. E ficou ali, naquele toque suave, enquanto sorvia minha boca.
Aquela leve provocação teve um efeito avassalador em mim. A pressão e a localização do toque só podiam ter sido cirurgicamente pensadas, para me excitar, me fazer pirar por mais, mas sem realmente ser um toque sexual, já que ali, afinal, era a minha perna. Tão perto e tão longe. Tão suave que era quase fruto da minha imaginação.
Curiosamente, acabei de fazer a conexão só agora: ele era médico.
Eu só sei que depois disso, em várias ocasiões, eu mesma usei esse artifício de sedução. O toque levinho na coxa, perto da virilha, durante o beijo. Via o efeito que causava, me sentia poderosa, mas tinha nostalgia, queria experimentar eu mesma novamente a sensação. Receio, porém, que seja impossível, assim como certas drogas, nada se compara à primeira dose.