A prática milenar da chacoalhada
Por Dolores
Cresci em uma época em que, pra gente ter acesso à pornografia, era preciso descolar um jornaleiro brother que vendesse as revistas sacanas para menores de idade, ou, caso não houvesse nenhum deles nas redondezas querendo cometer um crime, esperar até a madrugada das sextas-feiras para assistir aos filmes que a Bandeirantes passava.
Havia também algumas alternativas mais lightcore, como as promessas de peitinhos nus no programa do Mielle, no SBT, em que cada mulher era identificada como uma fruta – daí a gente chegava na escola e os meninos elegiam qual fruta a gente era, baseados no tamanho das nossas bundas. Era, enfim, uma época divertida, porém difícil.
Hoje, a dificuldade é fugir do acesso à putaria. Às vezes a gente até quer ficar de boa, e um anúncio de spray para aumentar a piroca pula na tela, ou o de um Tinder específico pra comer mulheres casadas, ou mesmo uma aba que a gente se esqueceu de fechar ressurge das cinzas do Chrome modo anônimo e retoma de onde paramos aquele vídeo esperto do portal especializado em sacanagem.
Esses sites, aliás, no geral me servem de entretenimento frequente, solo ou em dupla, mas nunca foram uma grande fonte de aprendizado – tudo que está lá eu meio que já fiz, já quis fazer, ou no mínimo já conheço.
Recentemente, no entanto, fui surpreendida por uma prática aparentemente milenar, e que só eu ainda não conhecia. Que vez ou outra até aparecia nas produções que eu escolhia ver, mas que devia passar desapercebida em meio a tanta penetração e felação. Um negócio tão simples, a ponto de sumir em meio ao todo, mas que, na prática, tem um valor inestimável e anda me fazendo bem feliz.
A chacoalhada. Conhece?
Não, não tem nada a ver com o pinto balançando, tampouco com ele servindo de instrumento para bater nos outros. A chacoalhada é um movimento muito especial que pode ser praticado por todos os gêneros, em ocasiões variadas, e que consiste em um dos participantes do rolê pegar nas carnes do outro e pura e simplesmente balançá-las.
Não se aplica força, na chacoalhada. Não é necessário qualquer vigor. A arte de chacoalhar, inclusive, envolve uma certa sutileza, um certo controle na pressão e velocidade. Como quando, por exemplo, eu estava sentando em um cara neste fim de semana, de costas para ele, que me enfiava o pau e os dedos em todos os lugares disponíveis, e, com a outra mão livre, ele me aplicava uma chacoalhada na bunda.
É algo próximo a um tapinha que não agride, e tem como única função a de empurrar as coisas para cima, para o lado. Ou uma agarradinha suave, para depois balançar tudo. Vale nas coxas, no saco… é livre.
Mas qual a graça, Dolores, você me pergunta? E claramente vejo que, se a chacoalhada ainda lhe parece tosca, é porque você, como acontecia comigo pouco tempo atrás, ainda não é um iniciado nas delícias dessa prática, duvidando, portanto, de sua utilidade.
A graça, leitor, é impor ao outro uma quase humilhação, uma imposição de propriedade, algo como “eu chacoalho suas carnes, sim, porque quem manda aqui sou eu”. Isso, fora o prazer que dá, depois de chacoalhadas, as porções serem mordidas ou violadas. Recomendo.
Em terras de pouca novidade, como são os portais de pornografia, é sempre uma grata surpresa descobrir uma prática teoricamente inédita que não envolva escatologias ou a necessidade de enfiar um braço inteiro dentro de mim, para que eu me surpreenda. Um verdadeiro presente para quem, como eu, é fã da simplicidade.