Revenge porn, a vingança que usa sexo e tecnologia
Por Carmen
A mais recente vítima de revenge porn, pornografia de vingança, foi uma jovem congressista norte-americana. Outra história de caráter medieval escrita com a pena da tecnologia.
Katie Hill, 32 anos, era uma promessa, eleita a primeira vez no ano passado como uma opção de renovação e frescor para a política na Califórnia. Ela renunciou o mandato na semana passada. O motivo, que deveria ter sido a falta de ética ao se envolver com uma funcionária de sua campanha, virou outro: as fotos desse encontro sexual, que foram vazadas do celular, ao que parece, pelo marido da deputada, de quem ela está se divorciando. Revenge porn é o verdadeiro crime aqui (sob a lei californiana, é mesmo), e a deputada não foi responsável por ele.
Até mesmo a líder do congresso norte-americano – uma mulher! – ao falar publicamente sobre o caso, mencionou apenas o escândalo, sem focar no que realmente importa, a gravidade do abuso feito por esse ex-marido ressentido e vingativo, divulgado com irresponsabilidade pela imprensa, e amplificado pela misoginia da sociedade.
Sob os olhares conservadores, tudo contribui para se crucificar Katie: jovem, mulher, aparentemente bissexual, que se envolveu em um ménage a trois. Lamentável como ainda se atiram pedras em quem se faz livre, conquista espaços e é dona de seus desejos.
Mais triste ainda é que sabemos que as maiores vítimas de revenge porn são adolescentes. Muitos casos levam a danos psicológicos permanentes e até ao suicídio, pela humilhação da exposição íntima não consentida, mesmo que as fotos tenham sido tiradas com permissão da menina.
O contexto da vingança, em geral de ex-namorados abandonados, vem normalmente acompanhado de outra crueldade, o slut-shaming, termo em inglês que significa criar fama e estigma de promíscua, imoral – puta mesmo -,com a intenção de envergonhar e destruir a imagem da mulher.
A justiça brasileira enquadra o revenge porn como difamação ou divulgação ilegal de imagens. Leis mais duras e específicas são urgentes.
Mais essencial ainda é as pessoas entenderem que não é a mulher que precisa ser mais cuidadosa ou recatada. É a cultura do respeito que precisa acontecer.