Proibiram a berinjela
Por Dolores
Acompanhada de uma carinha de espanto, com a boca aberta e os olhos arregalados, um amigo compartilhou a notícia: o Instagram começou a banir emojis de conotação sexual em postagens na rede. Em termos práticos, ninguém mais vai poder anexar uma berinjela aos comentários ou legendas das fotos daquele gostoso de sunga. Como viver a partir de agora?
A conversa sobre o problemão se deu no WhatsApp, onde meu amigo (um gostoso quase sempre de sunga) e eu ainda pudemos ilustrar o debate com todos os emojis desejados, os mais adequados, censura zero.
Além da expressão do choque, usufruímos, por exemplo, do nosso direito de apertar os ícones do fantasma (afinal estamos mortos com a notícia), o cocô (porque achamos a decisão uma merda), o boneco de neve (já que em resumo é tudo um grande balde de água fria), e a tesourinha (sinal claro de coisas corta-clima).
Sim, a gente sabe que nenhum desses emojis está proibido em lugar nenhum. Mas a simples ideia de que nossa forma ridícula de linguagem possa ser podada em ainda mais instâncias nos deixou em pânico, e brutalmente dispostos à verborragia cínica típica dos adolescentes contrariados.
Aliás, é a eles que Facebook e Instagram tentam proteger com a medida – os adolescentes em geral, contrariados ou concordantes, tanto faz. A ideia é bloquear “propostas implícitas ou indiretas de solicitação sexual”. Para as plataformas, “emojis ou cadeias de emojis de caráter normalmente sexual e contextualmente específicos” são um problema a ser contido.
Emoji de estrela, emoji de caixãozinho. A clássica representação do “preferia estar morta”.
Oras, Zuckerberg, você acha mesmo que, ao banir os pêssegos, gotinhas e garrafas de champanhe, está mesmo salvando o mundo do assédio virtual? Que, agora que aquele mala escroto não pode mais comentar com um donut meu nude de costas, eu estou protegida das investidas dele?
Não, Mark Elliot. Tudo que você vai conseguir com essa decisão é limitar – e encaretar – as interações entre amigos, amigas, crushes e crushas. Óbvio que a proibição vale para todos, e os sem-noção da internet terão uma ferramenta a menos para encher o saco. Mas é nas conversas e tirações de onda entre quem se conhece, e se gosta, e se paquera, e se provoca, que você vai meter seu bedelho acima de tudo.
Vamos deixar de poder brincar, enquanto quem usa a internet para inconveniências (e crimes, vai saber) vai ser pifiamente afetado. Parabéns.
Mas deixe estar, censores, que os nossos pulos a gente dá. Se não temos mais berinjela, algum jeito a gente encontra. Que seja a criação de stickers iguais aos do WhatsApp para comentários nas redes, que seja simplesmente escrever “aqui havia um legume roxo, comprido e duro, igual àquilo que eu sei que você tem para botar na minha boca”.
Engole essa.