Três vezes que a vontade de transar me levou à falência
Por Carmen
Falência é exagero, mas já aconteceu mais de uma vez de entrar no cheque especial e no rotativo do cartão que, sabemos, é a via expressa da falência financeira pessoal, para atender aos chamados da minha luxúria.
Eu não paguei pelo sexo em si, mas arquei com diária de motel caríssimo, fiz viagens que não cabiam no meu orçamento e comprei lingerie que deveria ser bordada a ouro de tão cara porque no momento eu tinha um objetivo: seduzir e ter orgasmos.
Se faria de novo? Aqui, diante do computador, tomando um latte e pensando em trabalho, tendo a dizer que não, mas nunca se sabe. O processo bioquímico do desejo sexual leva ao euforismo e a impulsividade, diz a ciência.
Se era mesmo necessário gastar tanto? Como saber o que é vontade ou necessidade quando o assunto é dinheiro ou sexo? São decisões tão subjetivas, pautada no momento, nos valores, na história pessoal, na personalidade, nas emoções…
O primeiro desfalque aconteceu quando eu era estagiária, naquele esquema em que pagava pela minha cerveja, minha gasolina e minhas roupas, mas ainda dependia dos pais para quase tudo. Estava em uma balada com o cara por quem era enlouquecida e, perto das 3h da manhã, finalmente sentamos em um sofá e ele falou: vou passar o Réveillon em Trancoso, vamos comigo? Era fim de novembro, a praia baiana já era um dos destinos mais disputados para o Ano Novo, mas eu não ia perder a oportunidade de passar alguns dias com aquele cara lindo, entre o mar e a cama da pousada, lambendo o sal do tórax dele cada vez que tivesse chance.
Paguei umas três vezes o valor que custaria normalmente uma passagem para Porto Seguro e demorei mais de um ano para voltar ao azul na minha conta-corrente.
A segunda vez doeu no bolso e na consciência, mas me recuperei mais rapidamente. Era a primeira vez que saia para almoçar com o cara que viria a ser o meu companheiro. Estava desempregada e tinha uma entrevista de trabalho logo após o encontro (porque topei duas coisas tão importantes no mesmo dia é algo que merece uma reflexão). Salinha privativa no japonês, saquê e a ideia de ir para o motel. Tínhamos uma hora até o meu compromisso. Ele pagou a gorda conta do restaurante rapidamente e eu, querendo me mostrar poderosa e independente, disse que a do motel era minha. O lugar mais perto com uma cama redonda era caro, bem caro. A única suíte disponível custava R$ 720. Ficamos 40 minutos lá. Cheguei na hora, mas não consegui o emprego. Valeu cada real, foi a foda mais cara por minuto da minha vida.
Por fim, a lingerie. Recém-separada, lutando para bancar uma casa sozinha pela primeira vez e querendo descobrir se ainda era capaz de seduzir alguém nessa vida, acabei eu seduzida por uma vendedora com lábia e pela beleza das rendas italianas. Deixei R$ 3.740 na loja. Naquele mês, não consegui pagar o valor total da fatura do cartão. Ainda tenho as peças. Ainda amo meu corpo quando estou usando elas.