Democrático, beijo vai do sexo ao amor
Por Dolores
Se tem uma coisa que amor e sexo têm em comum é o beijo. Coabitante de todos os status de relação, não importa há quanto tempo aquela gente se conhece, se é a primeira vez que se encostam, se já andam colados há uma década, o beijo vai estar lá. Discreto, molhado, exausto, curioso. Beijos, sempre beijos.
O beijo pode juntar pessoas, ou pode mandar cada um prum lado. Porque beijava com a boca mole, larguei de um homem que, não fosse o jeito frouxo de beijar, tinha tudo para ser o melhor cara do mundo. Também já me apaixonei por outro só porque sua boca bailarina dançava por cima e por dentro da minha, numa coreografia deliciosa desde o primeiro minuto.
Beijo tem até nome próprio. O Beijo Selinho. O Beijo de Língua. O Beijo Grego. Veja se o abraço, ou a mordida, levam alguma alcunha assim tão importante. Jamais.
Democrático e anatômico, cabe em qualquer parte do corpo, sem esforço. Abra a boca um tanto, umedeça os lábios. Pouse nas saboneteiras dela: percebe? Nos ossinhos do quadril, canelas, atrás dos joelhos.
Gosto de seguir a sequência do beijar a boca, pular direto para aquele buraquinho da traqueia, no pé do pescoço, daí enfiar a língua inteira na orelha e morder bem levinho a ponta do lóbulo. Erguer os braços para beijar os pelos do sovaco, a cintura, a dobra quente entre o saco e a coxa, a junção do pau com a pelezinha que ajuda na hora do gozo. E, ali, beijar demorado, como quem beija uma boca apaixonada, na expectativa de ser retribuída com uma gota qualquer que seja. Da sua outra saliva, dos seus outros lábios.
Na hora da transa, não tem brinquedo erótico nem vídeo safado que surta efeito mais afrodisíaco do que uns bons beijos. O beijo é o início, catalisador de tudo. O beijo é o desfecho, como um selo de cansaço e satisfação. E o beijo é sobretudo o meio, conduzindo o roteiro do amor.
Ele imita o movimento dos dedos, que invadem os buracos ao mesmo tempo em que a língua se mexe coordenada por dentro da boca – o indicador circulando o clitóris, a boca imitando tudo, o dedo médio explorando o cu, os lábios fazendo plágio. Quando a gente entra dentro um do outro, usando o caminho que for, você me beija e geme junto, e não há um só pedaço nosso que não esteja conectado nesse momento. E, quando goza, seu beijo se espanta, boquiaberto, despejando água quente com a mesma força que me molha entre as pernas.
Quero te beijar desde o primeiro até nosso último dia. E que, nessa despedida, quando ela houver de ser, que eu possa saber que não faltou um único momento em que, estando nós juntos, eu tenha deixado de conter você em mim, na boca, preso entre meus dentes, próximo ao lugar de onde saíram minhas juras de amor e meus gemidos.
Se eu pudesse, eu te engolia. Como não posso, eu te beijo.