Um conto erótico-gastronômico

X de Sexo

Por Dolores

Fazia menos de 24 horas que eu tinha levado um pé na bunda homérico, daqueles de deixar a marca do sapato impressa nas calças. Eu não queria dormir chorando de novo, eu não queria chorar nem queria dormir, na verdade, mas nenhuma das amigas podia sair hoje. Todas ocupadas com namorados, filhos, ou ocupadas com nada, mas sem vontade de botar a cara pra fora. Eu estava sozinha nessa.

Ignorei todas as garçonetes, não queria nenhuma garota naquele momento em que ainda digeria ter sido trocada por uma mulher mais jovem e bem-sucedida. Mirei os olhos azuis de barba cheia e sorriso meio torto, estiquei a mão pra cima, você pode me trazer um mojito, por favor?

Achei que a ideia ia ser ficar bêbada à mesa até a hora em que o garçom encerrasse o expediente. Talvez ele me carregasse para casa com uma mão socada na minha bunda e a outra abrindo a porta do carro dele, ou pode ser que ficasse com pena e me enfiasse a cabeça debaixo da torneira industrial da cozinha.

Mas foi com o cara que me perguntou se o sagu com creme inglês da sobremesa valia a pena que eu decidi ir mesmo embora, e isso bem antes de o restaurante fechar. Eu que chamei o Uber, ele que decidiu para onde, e achei meio tesudo o fato de ele escolher ir para a minha casa sem que eu o tivesse convidado. Ousado, deve ter um pau gigante.

Ele me empurrou porta adentro, ralando meu braço sem querer num preguinho exposto no batente da entrada. Devo ter reclamado, porque ele percebeu o risco na carne, e, enquanto ficava vermelho ganhando ares de ferimento e não de marca antiga, ele abriu bem grande a boca e lambeu o sangue que subia à superfície.

Beijo com gosto de ferro. Meus travesseiros com cheiro de camomila. A luz completamente acesa, e todos os sentidos estimulados ao mesmo tempo deixavam os dois em estado de alerta. Só baixei a guarda quando a mesma boca mordeu a nuca bem na raiz primeira dos cabelos. Todos os poros à mostra, e uma torneira industrial aberta, só que agora no meio das pernas.

Ajoelhei no chão. Agora eu quero te agradar. Você já tinha minha atenção, agora você tem minha língua. E ela vai circular, envolver, sugar e vibrar em toda a extensão do seu pau antes de você enfiá-lo em mim com toda a força que esses braços firmes e essa barriga dura me dizem que você tem.

Eu já nem me lembrava mais exatamente do que tinha antecedido aquela trepada boa com um completo desconhecido, havia uma vaga memória da pergunta sobre o sagu e o trajeto da Paulista até Moema, e foi quando ele pediu a chave porque precisava resolver um negócio. Imaginei que fosse conceder a gentileza de arrumar o preguinho exposto, e estendi a tetra explicando que era preciso também virar o ferrolho para a direita.

Em menos de cinco minutos escuto a porta bater de volta, o sino pendurado sobre o olho mágico badala, agudinho e irritante. Mas que caralho este homem está fazendo. Na sombra da luz do corredor que iluminava de leve o quarto agora apagado, depois de duas camisinhas usadas e um leve pudor sem motivo, ele surge de mãos dadas com outro homem, e se aproxima da cama. Avisa que trouxe um amigo, e que talvez eu o reconheça.

Estou pelada e suja. O garçom de olhos azuis, barba cheia e sorriso meio torto avisa: “Cheguei. Tenho fome”.

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