Sexo anal: um guia prático para a primeira vez
Por Dolores
Quando eu era adolescente, adorava que saíssem nas revistas Capricho e Atrevida aqueles guias tirando dúvidas sobre como era beijar um garoto, transar pela primeira vez, botar camisinha. Mas nunca nenhum deles sequer mencionou sexo anal. As revistas femininas, depois que cresci, também não escreviam nada muito produtivo para quem se interessava pelo assunto – só mesmo dicas suaves, quase puritanas. Até mesmo hoje, com a internet, é raro a gente ver quem fale a verdade sobre sexo anal. Ninguém menciona dor, sujeira, vergonha. Pensando nisso, resolvi que era hora de botar o pau na mesa e a bunda pra jogo, e chamar quem entende do assunto para uma conversa definitiva.
Com vocês, um papo com meu melhor amigo gay, 34 anos e expert na arte de ser feliz via porta dos fundos.
Afinal, dar o cu dói?
Dói. A intensidade depende de como é feito. A gente tem que pensar que o ânus é um músculo, e, como todo músculo, dilata e contrai. E, se não estiver relaxado, vai machucar. E o objetivo é que o sexo seja prazeroso. A técnica principal, para mim, é foco nas preliminares. Muita gente torce o nariz quando a gente fala de lamber o cu, o cunilingus, beijo grego, tem várias denominações. É o que, para mim, ajuda a relaxar. E é muito bom porque você vai estimulando a parte dos nervos. Ainda não tem a penetração, então não tem o atrito, e você vai fazendo com que relaxe. Para mim ajuda muito e me dá muito tesão, inclusive. E pode ser uma boa forma de iniciar o sexo anal. Outra coisa que muita gente faz é começar a introduzir elementos que não sejam tão invasivos, como um dedinho ou dois. Eu não gosto muito, me incomoda. Mas funciona, porque o músculo vai se acostumando, vai ficando mais flexível. E o mais importante é a lubrificação. Tem que lubrificar muito, e ficar com o lubrificante do lado, não economizar. Passar lubrificante no ânus o tempo inteiro, no pênis o tempo inteiro, na camisinha, porque isso ajuda. Faz com que não doa, e chega uma hora que o ânus está dilatado e aí é só prazer. Você não sente mais dor nenhuma, e é show.
Existe alguma técnica para não doer ou para doer menos?
O homem tem que ir devagar, realmente devagar. Tem que pensar que é uma área sensível e bem delicada, e ir ouvindo como o parceiro ou parceira está sentindo. No começo vai doer um pouquinho, mas, se for feito devagar, prestando atenção em como o prazer está sendo conduzido, chega a ser uma dor quase rápida.
Um dos principais medos de quem vai dar o cu e não tem muita experiência é que, ao entrar lá, o pênis do cara encontre ou bata em, como dizer, um cocozinho. Isso acontece mesmo? Com que frequência?
Acontece, e acontece bastante. Eu inclusive já tive infecção urinária duas vezes, com dois namorados. Acontece comigo sobretudo quando é com novos parceiros. Daí entra alguma coisa de fezes no canal do pênis. Mas, assim, sujar, de ficar uma caganeira, já rolou, já saiu cocô comigo e com o outro. Vai acontecer. Porque, né, é o reto, não tem muito o que fazer. Quando você começa a fazer sexo anal com frequência, em uma relação estável em que acontece bastante, de uma forma muito milagrosa a incidência disso é menor. Não sei se você vai ficando acostumado.
Tem algum jeito de evitar?
Tem gente que faz chuca. Eu já fiz, mas não gosto, não acho que é legal nem confortável. Existem os enemas que você pode comprar na farmácia. Tem alguns que são até portáteis. Você vai ao banheiro, introduz no ânus, segura um pouco, e depois solta. Não acho interessante porque não acho que seja garantia de nada, tem vezes que você sai limpo, tem vezes que não sai. Uma vez me ferrei e nunca mais usei. Pode ser, por exemplo, um dia que você esteja produzindo mais fezes, e não vai limpar. Mas tem gente que prefere, e tudo bem. Já li muito sobre o assunto, e parece que, ao fazer o enema, você limpa não só as fezes, mas também a lubrificação do ânus. Raramente faço sexo que não seja com namorado, avulso eu evito dar. E nunca faço sem camisinha, e, com camisinha, o atrito e o desconforto são muito maiores, então evito. E com namorado eu faço sem, e meu medo de fazer chuca é sangrar, fazer alguma lesão no ânus, e eu sou paranoico com essas coisas. Não gosto muito de fazer chuca, e acho que lubrificação é essencial, sobretudo os lubrificantes à base de água, que acho os melhores. O KY é insuperável. Acho que se você tem um intestino minimamente regulado, e sabe mais ou menos quando evacua, dá para evitar fazer sexo anal antes. Eu, por exemplo, vou ao banheiro todo dia de manhã, e não vou fazer sexo se ainda não fiz coco no dia. Você pensa: vou ter que cagar em algum momento, e se eu fizer sexo agora vai dar bosta, literalmente. Mas se eu tive um dia regular daí eu vou, porque eu sei que não vai sujar. Acho que prestar atenção é fundamental.
Se você pudesse fazer um guia rápido de bolso para quem quer iniciar nesta arte, o que escreveria nele?
Um resumo destes conselhos: tem que ter uma boa preliminar, uma boa conversa, e não insistir se estiver doendo muito. Se está lá na penetração e você continua sentindo dor, tem que parar. Se é algo tolerável e consegue sentir prazer, a tendência é que o prazer aumente e a dor desapareça. E quem é o ativo tem que ser muito responsável, nada de achar que está comendo um saco de batatas. Tem que ir devagarinho. Vai ter uma hora que o ritmo vai pegar, vão estar os dois curtindo e vai ser muito legal. Como diria Sandy, é possível ter prazer anal.