A especialista em fingir orgasmo
Por Dolores
Esqueça a mãozinha de Rose no vidro embaçado em “Titanic”, ou o rosto suado de Natalie Portman em “Cisne Negro” – a cena clássica de Meg Ryan em “Harry e Sally”, de 1989, é, de longe, o orgasmo mais famoso do cinema. Embora fake, a gozada é justamente construída para provar aos homens que as mulheres vez ou outra fingem, sim, independentemente do motivo.
Toda mulher nasce sabendo a fórmula: respiração ofegante, um ou outro gemido, pontas dos pés esticadas. São diversos elementos aos quais recorremos quando a ideia é fazer o parceiro ou parceira achar que deu tudo certo, estamos satisfeitas, já pode pedir o Uber que eu quero ir embora.
Mas, se na cama da vida real a gente geralmente não precisa de ajuda, quando a performance vai ser transmitida na telona, a coisa muda um pouco de figura. Fingir diante de milhões de espectadores do mundo inteiro – dizem – não é das ações mais fáceis da vida.
Por isso, Hollywood conta com uma especialista em orgasmos de mentira. O nome dela é Ita O’Brien, e seu trabalho é oficialmente definido como “coordenadora de intimidade para cinema, TV e teatro”. Recentemente, sua mão pode ser sentida em trabalhos como “Sexeducation”, da Netflix, e “Game of Thrones”, da HBO. Foi dela a assistência dada a Emilia Clarke e Kit Harignton para que seus personagens Daenerys Targaryen e Jon Snow pudessem transar o mais à vontade possível.
Em uma entrevista recente ao jornal britânico The Times, O’Brien contou que até mesmo os diretores às vezes ficam com vergonha de ter que conversar com seu elenco sobre esse tipo de cena. “Por isso, em vez de trabalhar com os atores, sugerem que eles resolvam tudo sozinhos. É uma atitude completamente equivocada. Se a ideia é parecer que há química, deve haver química na vida real”, explicou.
Entre os exercícios que ela propõe a alguém que procura sua orientação para gozar artisticamente bem estão a imitação de gatos e macacos, atirar-se ao chão ou mesmo se imaginar como sendo elementos da natureza, tipo a terra ou a água.
Com as sensações ensaiadas, O’Brien recomenda outra série de providências para a hora de entrar em cena. Em seu site oficial, ela fala, por exemplo, sobre o beijo, que não deveria nunca prever o uso da língua, exceto se pedido pelo diretor (e acordado entre os atores em questão), e sobre o sexo.
Neste caso, o ideal, segundo ela, é ter ao menos uma outra pessoa da equipe por perto, a fim de “manter o trabalho profissional e não privado”, usar sempre palavras muito claras e simples a respeito do que vai ser feito naquele momento, identificar individualmente o conteúdo emocional da cena e depois integrá-lo com as ações, bem como – talvez o ponto mais importante – acertar previamente entre todos os envolvidos quais são as áreas que poderão ou não ser tocadas.
Alguns acessórios também são bem-vindos no set coordenado por ela. O’Brien curte calças recheadas de lã e invisíveis às câmeras, que criam barreiras entre os protagonistas de uma cena de sexo, mas não evitam uma ereção involuntária. “É uma reação natural, mas não adequada no trabalho”, ela disse, na entrevista do The Times.
“Se acontecer, o ator deve ter a liberdade para parar tudo, descansar e voltar mais tarde”.