Hacker do sexo
Por Carmen
Parece roteiro de filme. Um garoto do interior de Michigan, Estados Unidos, passava o tempo criando códigos no porão de sua casa, até se mudar para Califórnia. Foi trabalhar em uma empresa de tecnologia e conheceu uma jornalista. No primeiro encontro, ela fez a pergunta básica: quais são seus hobbies? E a resposta foi surpreendente: hackear o Tinder.
Com a curiosidade aguçada, ela pede detalhes. E o programador conta: ele e uma amiga gata criaram um perfil dela no aplicativo e instalaram dois programas diferentes. O primeiro funcionava normalmente, criando os matches, ao jogar as fotos para a direita. O segundo era aquele que o rapaz levou meses codificando e onde residia uma pegadinha tec. Ele pareava dois homens que tinham virado contato da amiga. Ou seja, dois usuários do app acreditavam que estavam trocando mensagens com a menina, mas, na verdade, estavam se comunicando entre eles. Para eles, tudo parecia vir e ir para aquela gata. Apostaria que ia dar errado, certo? Pois mais de 400 conversas aconteceram entre as pessoas mais improváveis, que até identificavam algumas estranhezas, mas raramente duvidavam que estavam falando com a garota. Geralmente, os papos que mais fluíam eram entre homens que buscavam sexo casual e papos picantes. Frases como: “Vou passar a noite toda em cima de você”, “vou fazer você gritar meu nome de tanto gozar” e “Está quente dentro de suas calças?” são incrivelmente unissex.
O programador codificou algumas alterações automáticas de palavras relacionadas a gênero. Quando alguém escrevia “homem” imediatamente aparecia na tela “mulher”, “pênis” virava “vagina”. Mas ele esqueceu alguns outros termos como “ereção”, “duro”, “molhada” e “pai”, que tornavam a conversa um pouco nonsense para os usuários do app e hilária para ele e seus amigos, que acompanhavam tudo em tempo real.
Outro bug era que palavras que tinham “man” (homem, em inglês), no meio de sua formação, também ganharam uma semi-tradução. Manhattan, por exemplo, virava Womanhattan. Segundo ele, as imperfeições ajudam na pegadinha, porque a parte mais divertida era o momento que as pessoas percebiam que estavam sendo troladas. E elas sempre culpavam o próprio app ou a usuária, nunca uma terceira pessoa.
Quando dois dos enganados resolveram marcar um encontro para valer, o programador e a amiga acharam que tinham ido longe demais. Caíram na real que ali havia pessoas com expectativas, carências, em busca de companhia e eles estavam brincando com suas vidas de forma cruel. A amiga quis por um ponto final no passatempo e, mesmo depois de meses, ainda era reconhecida como “a garota do Tinder”, em bares e festas, depois de tantos matches e papos sacanas. A jornalista, que ouviu a história toda, nunca mais quis usar aplicativos de relacionamento. E o programador, quando lhe perguntaram sobre seus hobbies em uma entrevista de trabalho, contou tudo. Na empresa de tecnologia, ninguém se importou com a questão ética, ficaram impressionados com a originalidade da ideia e lhe deram o emprego.