‘Só vou a médico gay’
Por Carmen
“Eu moro em Nova York há 12 anos e sou gay. Foi aqui, longe da família e dos colegas, que eu passei a viver minha sexualidade de forma natural. Isso acontece com muitos brasileiros que moram fora.
Sempre experimentei muito, conheci muita gente. Nos últimos anos, tudo ficou mais prático com o Grindr (aplicativo de encontros voltado ao público homossexual). Para ter uma ideia, já transei com dois caras do meu prédio. Quando isso aconteceria? Nas viagens de 15 segundos no elevador, as pessoas mal se olham, muito menos sabem qual é a da outra.
Um desses vizinhos, do 4º andar, desceu até meu apartamento em um início de noite de quarta-feira, depois de meia hora de conversa no app. Ofereci uma bebida, mas ele queria resolver as coisas logo. Foi a eficiência em pessoa: exímio beijador, falou as sacanagens certas, gozou e me fez gozar, e ainda me ajudou a limpar tudo – 20 minutos depois já subia pelo elevador.
O do 1º andar foi menos casual, mas hoje, ele está casado e se tornou o meu médico para check-ups anuais. Eu me recuso a me consultar com médicos que não sejam gays. Só quem é homossexual sabe. Não quero ser julgado pelo meu estilo de vida. Eu mesmo já me julguei muito na vida e não preciso mais disso.
Ao contrário de muitos gays nova-iorquinos, eu não faço uso de PrEP, a profilaxia pré-exposição ao HIV. Tentei, mas não me adaptei à medicação que, inclusive, já está disponível no Brasil. No final, acho até melhor não desfrutar dessa liberdade sexual toda. Não que não seja bom penetrar sem a camisinha, mas sentir um pouco de medo, saber que não somos invencíveis, faz a gente valorizar nosso corpo, nossa saúde, nossas emoções até. A única dificuldade é convencer os caras a usarem preservativos. Tomando remédio para prevenção diariamente, ninguém quer mais.”