A burocracia do sexo anal

X de Sexo

Por Dolores

Não há como florear uma declaração dessas: eu gosto de sexo anal. Pronto. Gosto muito. Talvez mais do que minha família gostaria de saber que gosto. E quem curte dar o cu assim nesse tanto não costuma ter frescuras tipo fazer casting e seleção de elenco antes da ação: se o convite é pra ser feliz, qualquer hora é hora, qualquer parceiro é convidado. Nunca fiz restrição e sempre fui bem aberta (um texto sobre sexo anal exige trocadilhos, leitor, portanto acostume-se).

Crédito da foto Pinterest

Há, no entanto, confesso, uma parte profunda de mim que, sim, titubeia antes de assinar o laudo de liberação definitiva. Nada a ver com dor, por exemplo, porque para isso existem os maravilhosos lubrificantes com os quais se besunta tudo e todos, além de rolar aquele mantra relaxante que a tradição recomenda entoar antes da entrada inaugural – a letra diz, em sânscrito, algo como “enfia logo, mas com cuidado”.

Também não tem relação alguma com medo de passar vergonha, cheque ou atestado de safada. Com o primeiro nunca me preocupei, senão não tinha nunca nem tirado a roupa na frente de ninguém a vida inteira. Contra o segundo se toma providências, e os tutoriais de chuca estão aí à disposição na internet para quem ainda não manja da preparação adequada. E prova de que gosto de dar, afe, quer mais do que assinar este blog aqui?

Minha hesitação vem, isto sim, da burocracia do sexo anal.

Porque pode ser que você não saiba, leitor homem hétero (se for bee sabe certeza, se for leitora mulher também sabe e vai talvez chorar comigo no cantinho), mas dar o cu traz consequências para a vida de uma pessoa. E tem dias que lidar com consequências é o que a gente menos quer na vida.

É fruto do sexo anal, por exemplo, uma ligeira dor de barriga subsequente. Pois é, veja a ironia, a porta em si se recupera rápido, mas o corredor se ressente de todo o trânsito excepcional. Com isso, a vontade de visitar o banheiro é quase inevitável, e convenhamos que dar esse rolê na madrugada, depois de uma noite quente passada de quatro, pode gerar preguiça e indisposição.

Além disso, há que se considerar invariavelmente a higiene posterior – não dá para dar o cu, caprichar no KY, e depois virar de lado fingindo que não está tudo melecado e grudento. Adicione-se aí, então, na planilha burocrática, uns 15 minutos de sono perdido debaixo do chuveiro, arrumando tudo para voltar a ficar elegante e imaculada.

Acho, no fundo (de novo), que é só mesmo por isso que o sexo anal é menos popular que as outras modalidades, que guardam exigências posteriores bem menos complicadas. Sexo oral? É só decidir se engole ou se cospe. Sexo vaginal? Chega mais aqui de conchinha e apaga a luz, por favor. Punheta ou siririca? Um pedacinho de papel higiênico e não se fala mais nisso.

O jeito é passar a transar assim só durante o dia, quem sabe, o que não me parece das decisões mais práticas. Ou, então, assumir de vez a burocracia, abrir mão de querer controlar tudo e ser feliz como for possível – ainda que, para isso, a gente precise assinar três vias e reconhecer firma em cartório.

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