Vestígios do seu sexo em mim
Por Dolores
Ainda não consegui decidir, amante meu, se o momento mais difícil de separação entre mim e você é aquele em que o vazio se abre, depois que você sai de dentro de mim, ou se é aquele, passadas horas e horas dessa desconexão, quando retomo meu corpo só para mim, e surgem nele vestígios seus.
São propositais? Há um planejamento, um cálculo, uma execução de metas?
Você determina, por exemplo, o ponto exato da mordida mais doída que vai dar no peito, de modo que a marca roxa seja, em escala exata, uma reprodução ampliada do diâmetro do meu mamilo?
E o arranhão da barba na virilha e coxas: premeditado? A lâmina abandonada por três dias seguidos, o movimento circular com força quando passa pelas minhas carnes mais macias, é tudo porção de um plano complexo que prevê que eu me lembre da sua língua e lábios toda vez que olhar para baixo ou vestir minha calcinha?
Se são feitos voluntários, não há nada mais que eu possa dar a você do que parabéns. Porque funciona. Funciona bem. Causam saudade imediata, carência absoluta, angústia irremediável e tesão por imaginar que em muito breve vou ver você de novo, e sua dança irresponsável em busca de evidências vai me envolver outra vez, me grifar, sinalizar que é pequena a chance de completude quando você – ou seus pedaços – não estão.
Hoje, foi no banho que você voltou para mim, amante meu.
Com a ponta dos dedos, cavei meus pelos e lá encontrei os pelos seus (caracóis que tanto amo, lembra, meu bem?), e escorreguei tudo para dentro de mim até alcançar o buraco macio em que dormia, ainda quente, o gozo que você derramou na última noite enquanto segurava firme meu quadril em direção ao seu.
Aliás, amante meu, repare nas suas mãos agora: deve haver um fio de cabelo enrolado nelas, vestígio meu também daquele exato momento, quando uma trança jazia presa entre o seu indicador e o polegar. Acho que até mesmo a submissão é capaz de deixar marcas de amor em alguém.