Linha 121
Por Dolores
A ventania indica que em breve o mundo vai desabar, enquanto eles sobem no ônibus em uma avenida central da cidade. É a linha de trajeto mais longo, porque a outra, favorita do casal aos finais de semana, tem feito desvios nos pontos, e consideram que dá muito trabalho descobrir, a cada domingo, em qual travessa deveriam esperar pelo transporte.
Não fossem as árvores balançando com força lá fora, agora abrigados eles mal sentiriam que o tempo virou – as janelas do 121 estão embaçadas da respiração dos passageiros, e quase começa a fazer calor ali naquela região do ônibus, longe das portas. Se encostam um no outro, cabeça no ombro dele, ele põe a mão na coxa dela em um gesto automático de carinho.
Sobe mais uma dúzia de gente na altura da praça do monumento. Corpos passam por perto, se estendem com os braços para cima, homens, mulheres, o ar rescende a suor de fim de tarde e perfume de quem vai à missa.
É quase sem querer que ela também pousa a mão na perna dele, e, mais sem intenção ainda, esbarra no que claramente se destaca, cheio de volume, por baixo do bolso da bermuda: o pau quase todo duro, fazendo contrações a cada bombeada de sangue que ela não sabe se coincide com os faróis fechados, ou com o fluxo dos companheiros de viagem que se equilibram a cada freada.
Sem cerimônia ou constrangimento, começa uma massagem delicada e quase imperceptível, especialmente quando ele cobre sua mão com a mão dele, ao menos vamos tentar parecer que somos um casal decente voltando para casa de ônibus em um domingo chuvoso. Ele fecha os olhos para sentir melhor a mão, o sangue, as lambidas na orelha que ela decide aplicar (ou fecha os olhos para não saber se alguém está vendo tudo?).
Vão assim por três bairros inteiros. Na parada final desembarcam, e, assim que o 121 começa a manobra no terminal em forma de ferradura, ela pede que ele entre com os dedos por baixo da saia e sinta o líquido escorrendo pela costura lateral da calcinha, olha só o que você faz comigo, diz antes de um beijo quente.
Sobem no elevador até o segundo andar de sempre, ela não o deixa sair. Aperta o oitavo, agora é hora de viajar. Fecha as mãos em concha na bunda dela, força o quadril contra as cadeiras e a saia agora erguida quase na altura dos peitos. Não há câmeras aqui, parece.
Por trás da porta do apartamento vão caindo roupas, desamarram-se os sapatos, e ela se ajoelha diante dele com as mãos úmidas de saliva que vão molhar as bolas, as coxas e o períneo dele. Com o celular na mão, ele tira fotos. Ela sugere filme.
Dá para ele de pé, os dois encostados na parede, e ele grava tudo primeiro pelo espelho, depois com um ângulo de baixo para cima, o foco no entra e sai frenético que acaba em uma cascata que muito dificilmente daria para identificar se veio dele, se veio dela ou dos dois amontoados.