Boas frestas
Por Dolores
Tender, farofa, pêssego em calda, lentilha, uva passa.
Lombo.
Peru.
Rabanada.
Como é que um ser humano pode querer mandar bem na cama depois de tamanha orgia gastronômica natalina? Com o bucho cheio de ceia nadando em vinho? Não há comida de duplo sentido que chegue, nem disposição que sobreviva às festas de fim de ano. Diante de uma mesa repleta, até mesmo a mais farta das camas mingua.
Daí que é preciso inventar artifícios, recorrer a alternativas, uma força tarefa a fim de não deixar o sexo morrer, não deixar o sexo acabar, Natal e Ano Novo são feitos de sexo pra gente transar.
Há quem prefira um Engov, outros são do time Luftal, mas independentemente do que se escolha na farmacinha de casa, o segredo das trepadas nessa época do ano é acudir-se com as brechas. As fendas.
Se ninguém tem condições de cavalgar ninguém depois de mandar ver no panetone, que se assumam as condições adversas: é hora da comida de ladinho. Encaixados um no outro debaixo do lençol (que cobertor nesse clima não tá dando), mãos livres para explorar protuberâncias e recôncavos, a pedida é se enfiar nos buracos levantando o corpo do colchão o mínimo possível. Manter o estômago na horizontal. Chacoalhando muito pouco.
No vai-e-vem suave do sexo conchinha, não é preciso interromper a digestão, tampouco desafiar a gravidade com movimentos bruscos que roubem a corrente sanguínea de órgãos sobrecarregados. Vale botar só a cabecinha. Vale sexo anal com chamego. Vale punhetinha de costas, vale siririca preguiçosa no escuro (mas com mordida no pescoço, faz favor).
Ceia nenhuma de Natal ou Réveillon deveria ser desculpa para a gente não transar nesse período. Pelo contrário: é hora de ressignificar a comilança e entender que um estômago estufado pode ter o mesmo valor que um pau duro ou uma xoxota molhada. Quem foi que disse que barriga não ama? Comamos, refestelemo-nos, digiramos, copulemos. Boas frestas.