Sexo, mentiras e videotape
Por Carmen
Provável que tenha sido assim com você também: estava voltando do almoço ontem quando recebi o vídeo que parecia mostrar o candidato ao governo de São Paulo João Doria em uma orgia com cinco mulheres, em um quarto de motel. Quando cheguei ao trabalho, o assunto estava em todos os celulares e conversas: “Parece muuuito ele”. “Não é, não! O pescoço está meio estranho, é montagem, certeza”. “Como esse cabelo com gel não despenteia nem nessas horas?” “Preferia ver um nude do Haddad”, eram alguns comentários.
Não sou de receber muitos memes, fake news e correntes pelo Whatsapp. Não participo de nenhum grupo gigante cujos membros não são meus contatos. Para ter chegado até mim, imagino que o escândalo já estava tomando enorme proporção.
Não tenho, como a maioria de nós, como confirmar se o vídeo é real ou fake e, sim, é lamentável que a disputa política envolva esse tipo de discussão. Mas confesso, assisti aquele minuto de gravação várias vezes, dei zoom no rosto, dei zoom no pinto e tudo mais.
Nas versões que recebi (foram três), achei curioso que ele ficasse deitado, quase sem se mexer, mal levantando a cabeça. Apenas as mulheres “atuavam”. E havia uma troca muito rápida entre elas, ele quase não usufruía do contato com cada uma e já passava para a próxima. Não vi tesão na cena.
Porque “sex tapes” têm mais a ver com escândalo, chantagem e desmoralização do que com sexo. Desde que a filmagem caseira passou a existir – em super 8, vhs, celulares… – registrar nudes, strip teases e atos sexuais virou uma brincadeira excitante e arriscada. E por ser excitante, muitas vezes, ela é feita com consenso de todos os envolvidos. Existe o fetiche de se tornar um ator/atriz pornô.
Na era da câmera digital, pré-smartphone, topei a fantasia. Foi muito estranho me ver fazendo sexo oral por outro ângulo, como se fosse uma experiência fora do corpo. Mas adorei o close do vai-e-vem da penetração. Já é algo que gosto de assistir mesmo, levanto o pescoço para olhar, curto quando a posição permite acompanhar pelo espelho do quarto. Quando o caso com meu “co-star” terminou, combinamos de apagar os vídeos e, acredito, ambos cumprimos com a palavra. Arrisquei, como já arrisquei transando sem camisinha ou em lugares públicos. Se eu fosse famosa, o risco seria infinitamente maior.
Vídeos de sexo já transformaram Paris Hilton e Kim Kardashian em celebridades. Fez o nome de Carolina Dieckmann virar lei – no caso dela, foram fotos íntimas que foram divulgadas na internet. Para João Doria, que aparece em primeiro lugar nas pesquisas eleitorais, talvez o impacto seja, acima de tudo, a vergonha e a humilhação dele e da família.