Piada suja é moralismo
Por Carmen
Era a minha primeira vez. Eu tinha curiosidade, vontade, mas não sabia como ia ser. E se o cara avançasse o sinal? E se ele fosse machista? E se eu não achasse muita graça? E se eu gostasse muito e viciasse? E se eu descobrisse que quanto mais sujeira melhor?
Fui no embalo. As amigas todas já tinham experimentado. No fundo, não pensei muito e me joguei no a plateia do meu primeiro show de standup comedy.
Fui logo de cara em uma sessão grupal. Cinco caras se alternando. Estava na defensiva, afinal, existem humoristas que reforçam misoginia e preconceitos.
E não é que as piadas explícitas de sexo me deixaram um tanto envergonhada, ali na poltrona N 22? Veja bem, não me considero moralista. Estou longe de ser pudica. Simplesmente era uma novidade para mim, não estava acostumada. Eu que falo “me enche de porra” para o meu namorado na cama, me constrangi com um homem que nunca tinha visto na vida diante de uma galera fazendo piada sobre gozada na cara.
Mas fui ao longo do espetáculo desconstruindo esse meu ranço, essa minha sisudez. Lembrei que chamar algo relacionado a sexo de sujo, mesmo que seja uma piada, só demonstra como tratamos (mal) o nosso querido sexo.
Depois de alguns minutos do show, relaxei e gozei. Confesso que gargalhei da descrição de uma transa entre o humorista e uma amante beeem mais velha. Mas parei de rir quando ele se referiu à própria mulher como puta. Cada um tem um limite no sexo e no humor. Para mim, isso é inadmissível. Para outros, a piada sobre religião talvez tenha pegado mais.
A conclusão é que o humor continua politicamente incorreto, como sempre foi, mas também consegue passar mensagens de tolerância, de reflexão sobre a aceitação do que é diverso. Terminei a noite achando que a comédia stand-up pode ser bem menos ofensiva do que as ruas e as redes sociais.