Aprenda como falar de pornografia com seus filhos
Por Carmen
Erika Lust. Taí uma mulher para quem todos deveriam pagar pau. A cineasta sueca, que vive em Barcelona, nos presenteia semanalmente com os curtas-metragens XConfessions – pornografia bem feita, realista, sensual, positiva na internet. É outro universo, muitas galáxias distantes, dos milhões de vídeos de mau gosto, má qualidade, que limitam a prática sexual e os papéis de gênero, que degradam a mulher e transformam minorias em fetiche. Um dos lemas de Erika é que a vida é muito curta para se assistir à pornografia ruim.
Filmes pornôs – éticos ou não – são feitos exclusivamente para excitar. Mas a cineasta entende que há ideologias e valores quando se discursa sobre sexualidade e se preocupa com as mensagens que passa.
“Filmes eróticos deveriam ser visto por quem tem mais de 18 anos como forma de entretenimento. Mas o fato é que muitos adolescentes são expostos à pornografia muito antes dessa idade”, comenta ela.
De fato, a realidade é esta: jovens usam pornografia de fácil acesso na internet como fonte de aprendizado sobre sexo e passam a acreditam que o jeito certo de se fazer envolve misoginia, comportamento violento, falta de permissão e de comunicação de necessidades e desejos. “É muito problemático. Eu me sinto responsável sobre as mensagens que passo, sempre garanto que questões essenciais da vida real estejam retratadas: consenso, respeito mútuo, prazer para todos. Não vou perpetuar ideias perigosas”, diz a diretora.
Mas ela vai além de cuidar da narrativa de sua produção cinematográfica. Enquanto os filmes que faz estão em função do prazer, o movimento sem fins lucrativos que lançou, The Porn Conversation, está aí para ajudar os pais a conversarem sobre pornografia com os filhos. A ideia do site é dar ferramentas para os adultos iniciarem esse importante diálogo. As orientações são divididas por faixa etária. “Hoje vemos os governos tentando censurar a pornografia, com a justificativa de proteger os jovens. Parece algo bom em um primeiro momento, mas existe uma complexidade na criação de bancos de dados que rastreiam preferências sexuais, e isso envolve violações de dados, práticas ruins de segurança, dark web, e manipulação”, opina Erika. “Parece um retrocesso para a sociedade, quando estamos apenas começando a aceitar as escolhas sexuais de cada um.”
Para ela, em vez de gastar dinheiro censurando a pornografia, o caminho é melhorar a educação sexual. Pais e professores devem discutir pornografia, explicar que não é uma representação real do sexo e geralmente é uma fantasia que leva a extremos. “Em vez de consertar um problema sexual com tecnologia, deveríamos educar as crianças e jovens para ter pensamento crítico.”