Em busca da xoxota perfeita
Por Dolores*
Pergunte a uma mulher o que é um pau bonito, e as respostas serão tão ou mais variadas do que o próprio sortimento de pirocas disponíveis pelo mundo. Grande, médio, pequeno, cabeça redonda, circuncisado, claro, escuro – de minha experiência como mulher e das conversas que tenho com pessoas de todos os gêneros, somos todos muito flexíveis e ecléticos quando o assunto é a aparência do pênis de alguém que nos come.
Mas, e se a mesma pergunta for feita a um homem, a respeito da beleza de uma xoxota? Não é preciso ser nenhum gênio para saber que, em um mundo regido por padrões quase irreais, grande parte dos entrevistados vai mandar os clássicos “rosa”, “lisinha”, “macia”, “redonda”, “toda fechadinha”, “gordinha”.
Pois antes de iniciar aqui o breve debate que me move ao publicar este texto, acho importante pontuar: tenho buceta marrom bem escura, com pelinhas para fora, uma pinta escura no meio do clitóris proeminente, quase magrela, ela, assim como eu. Uma estética que absolutamente nunca me incomodou, mas, que, talvez possa ter chateado um ou outro conviva nas camas que passei (caguei, enfim, só dizendo).
Só que essa, né, sou eu. Com minhas crenças, morais e, por que não, padrões trabalhados e quase ignorados. E eu sei que, infelizmente, muitas mulheres não dividem comigo essa aceitação da própria xana – sofrem, se debatem, têm vergonha, se escondem. Algumas fazem isso por puro medo de não serem belas, afinal, que baita padrão restrito e irreal que nos cerca, mas, outras, têm, isto sim, um sentimento de inadequação à parte qualquer cobrança estética da sociedade.
Descobri, em um evento na semana passada em SP, que a cirurgia plástica na xoxota foi a que mais cresceu entre absolutamente todas as práticas dessa natureza nos consultórios médicos. Passou na frente de lipoaspiração, silicone no peito, tudo. Cada vez mais, mulheres procuram a mesa de operação para modificar sua região íntima.
Em um primeiro momento, confesso que me revoltei. Fiz a linha questionadora-feminista em meio ao grupo que almoçava durante a coletiva, de mão levantada e cara de ódio querendo saber qual seria a cirurgia reparadora, por exemplo, para bolas caídas e sacos enrugados além do normal. Mas, mais calma, compreendi que há algo de importante acontecendo aqui.
Segundo o médico André Colaneri, plástico especializado nesse tipo de procedimento, e que conduziu o encontro, há casos em que, à parte a estética por si só e cobranças externas que poderiam resultar dela, muitas mulheres sentem dores por conta do clitóris muito exposto, ou dos pequenos lábios vaginais disformes e muito aparentes. E a ninfoplastia, nome que se dá para cirurgia em que há uma correção em termos de tamanho e proporção, vem justamente para transformar a vida delas.
Foi mencionado, por exemplo, o caso de uma moça que, aos 30 anos, era virgem, por medo de mostrar a xoxota a alguém. Outra que só transava no escuro com qualquer parceiro. E também aquelas que, quando vestem uma roupa mais justa, ficam com a vulva marcada e, por isso, sofrem sem querer sair de casa – não, queridos, camel toe não é divertido na vida real.
E neste contexto eu vejo, sim, uma importância fundamental de que práticas como essa sejam divulgadas. Para que essas mulheres não achem que estão sozinhas no mundo, e que, sobretudo, saibam que, se for este realmente seu desejo, seu caso tem solução, o que a ajudará a chegar bem perto do que sonha para si.
Por isso, aproveito este espaço aqui para divulgar: se você, moça, sente vergonha – e não porque alguém disse isso a você, mas, sim, porque é algo que você pensa por si mesma -, durma tranquila esta noite, e amanhã pesquise com calma um bom cirurgião, que vai conduzir seu caso com delicadeza e respeito.
Vá atrás de ser feliz, mesmo que, sim, seja preciso passar por uma mesa de operações em um hospital. Zero problema. E nada de deixar que alguém decida por você como você deve se parecer, ou o que é válido ou não na busca pela felicidade com o próprio corpo. Quem manda nesse aí é você, e só você.