Pinguim esmerilhador de clitóris
Por Dolores
Se até pouco tempo atrás era comum que o boy abrisse a boca em espanto quando dava de cara com o melhor amigo da mina na cabeceira da cama dela, hoje, com todos os progressos conquistados no mundo do sexo, a reação ao primeiro encontro com o vibrador de uma moça costuma ser menos dramática.
Conheço, inclusive, muitos casos de rapazes que, altruisticamente apaixonados, inclusive ofertam brinquedos eróticos às mulheres que amam, como presente em datas importantes. Natal? Toma aqui um Papai Noel que gira. Aniversário? Eis um vibrador com 25 velocidades. E por aí vamos.
De maneira que, quando atualmente se deparam com uma – não tão – inesperada pica complementar na penumbra do quarto, é mais comum que os caras perguntem dados acerca do seu funcionamento, ao invés de fechar a cara e transar emburrados. Viva a evolução.
Foi neste ínterim que um amigo me telefonou outro dia para contar uma novidade. Sua amiga, proprietária de um sex shop em São Paulo, acabara de receber novos produtos (ele usou essa palavra, “produtos”), têm todos tido boa saída entre as mulheres e seus companheiros, e ele queria que eu desse uma olhada. Oras, fizesse ele o favor – logo – de me mandar as encomendas (eu usei essa palavra, “encomendas”) logo.
Uma sacola plástica chegou à portaria lotada de vibradores, o incauto porteiro interfonou para avisar. Vou sacando de dentro uma, duas, seis embalagens com toda a sorte de passatempos. Facilmente impressionável, parto direto para a maior caixa de todas. Lá de dentro salta um descomunal pênis feito com 50 cm da mais pura borracha marrom escura, simulando um tal de “Negão da Picona”, personalidade que, diz a embalagem, fez sua fama no WhatsApp.
Dado que não sou das maiores fãs das maiores pirocas, xereto em busca da próxima brincadeira. Um pinguim fofo, do tamanho da minha mão, com jeitinho de enfeite para se colocar em cima da geladeira, me olha com seu olhinho cego, vestido de gravatinha cor de rosa.
Custa R$ 586, diz a dona da loja, se chama Satisfyer, e serve para “sugar o clitóris e estimular 8.000 terminações nervosas ao redor dele”. Estremeço: devo pagar o aluguel desse mês ou comprar um pinguim chupador? Que dúvida. Ainda na linha fauna surge um coelhinho de silicone cirúrgico, cujas orelhas servem para que a mulher apoie o clitóris no meio e depois introduza seu corpinho na xoxota. Parece promissor.
Completam a sacola, ainda, os famosos bullets com diversas possibilidades de pulsação, e ainda controle para que o parceiro ou parceira torture a moça de tesão à distância. E pensar que, na minha adolescência, quando eu queria algo mais divertido, precisava apelar para uma falida escova de dentes elétrica.
“A mulherada está investindo muito no seu próprio prazer, e por isso estão gastando mais”, me avisa a empresária, confirmando que, como eu suspeitava, o líder de vendas é o pinguim fofinho esmerilhador de clitóris. Há, ela completa, opções de vibradores por até R$ 2.500. Já pensou ser rica e ainda poder gozar quando e como quiser?
Agradeço o empréstimo e me despeço da moça ao telefone, informando que, fique tranquila, não encostei tampouco babei nas peças, estão todas elas intactas. Ela diz “obrigada eu” e, quando já quase desliga, me escuta perguntar do outro lado sobre as possibilidades de parcelamento na compra do Satisfyer. Afinal, quem se importa em ser despejada tendo 8.000 nervos do clitóris sugados? Deixa eu pegar aqui o meu cartão.