“Tive um sugar daddy e não sabia”
O assunto da vez são os relacionamentos “sugar” (de açúcar). Não é uma novidade no mundo, mas nem todo mundo conhece pelos nomes: mulheres jovens e bonitas, as “sugar babies”, na companhia de homens mais velhos e ricos, os “sugar daddies”. Ela fica a disposição para encontros, jantares, viagens e sexo e ele, por sua vez, dá roupas, joias, paga o estudo e o aluguel dela. Os termos variam de par para par, mas em comum há as expectativas e benefícios bem estabelecidos de cada uma das partes. Há ainda a “sugar mommy”, que é a mulher mais velha e bem-sucedida que mantém e sai com um garotão. E as versões homossexuais de todos esses papéis.
O holofote do momento se deu porque estão sendo divulgados sites e aplicativos para encontrar relacionamentos desse tipo. Nada mais natural, já que existe app de tudo nesse mundo e os que fazem mais sucesso são aqueles que unem quem quer vender com quem quer comprar, né?
Estamos falando de uma troca, e a linha entre uma “sugar baby” e uma prostituta é tênue. A defesa é que este não é o meio de vida delas. Elas estudam, trabalham e apenas recebem uma “ajuda” temporária enquanto se formam na carreira, em troca da companhia e sexo. É quase uma redistribuição de renda mais justa, ahaha. Há casos em que o relacionamento começa na base do bate papo, do sexo, e vira amor, casamento. Por outro lado, um desses serviços online, por exemplo, incentiva as garotas a estarem sempre disponíveis, nem que isso signifique faltar ao trabalho, e a não falar sobre o relacionamento com familiares. Opa…
Joguei a polêmica “é prostituição ou não” na mesa do almoço com as amigas e acabei conhecendo a história da Bianca, que foi “sugar baby” quando era estudante e só descobriu que o relacionamento tinha essa nomenclatura muitos anos depois.
“Eu não planejei ter um ‘sugar daddy’. Aconteceu. Eu tinha 20 anos, fazia faculdade de jornalismo. Era época áurea das salas de bate papo na internet e eu viciei. Entrava todo dia, conversava com homens, mulheres, às vezes assuntos picantes, às vezes só papinho, mas sempre havia flerte. Conheci esse cara que destoava no ambiente virtual, porque era mais culto, mais sério, e me interessei. Ele era 15 anos mais velho que eu, estrangeiro morando no Rio de Janeiro, diretor de uma multinacional, vivia sozinho em um apartamento de frente para o mar de Ipanema. Meus amigos eram gente de humanas que bebia Skol em churrasco, e esse cara tomava uísque e ouvia jazz. Não tinha nada a ver comigo, mas estava curiosa e segui em frente.
Ele veio para São Paulo especialmente para me conhecer: nada de café ou barzinho no primeiro encontro, fomos ao restaurante de um hotel 5 estrelas na região da Paulista, e pela primeira vez provei um prato com trufas brancas. Fui para cama com ele, porque vi como aquele homem estava babando por mim e seu jeito dominador me excitou, me comeu com força. Sempre foi assim o sexo com ele – quase violento. Mas fora da cama ele me tratava como uma princesa, uma deusa. Eu fiquei inebriada por esse tratamento dúbio.
Os mimos começaram com arranjos de flores que custavam mais de R$ 300. Depois inúmeras passagens para o Rio de Janeiro. Jantares nos restaurantes mais exclusivos. Shows na plateia vip. Em um primeiro momento, me parecia apenas a maneira dele de agradar, já que parecia bem apaixonado. Diferentemente dos relacionamentos pré-estabelecidos, não conversamos sobre benefícios mútuos. Mas fui percebendo que os melhores presentes vinham quando eu fazia algo que ele apreciava. Um conjunto de malas de couro de uma grife famosa quando faltei às aulas para acompanhá-lo a um jantar de negócios. Se o sexo havia especialmente quente na noite anterior, caixinhas de veludo com joias apareciam na minha frente no dia seguinte. Quando finalmente topei fazer sexo anal, ele me deu brincos de brilhantes.
Eu percebi que ele me queria disponível o tempo todo – para companhia e, principalmente, para transar. E eu, inconscientemente, me sentia na obrigação de estar. Ele me comprava mesmo. Eu era ingênua ou não queria ver. O tempo todo enxergava os presentes como demonstração de afeto.
Foram quase dois anos assim, até ele ser transferido para a Inglaterra e quis me levar com ele. Aí me bateu a consciência de: ‘O que estou fazendo? Vou largar meu último semestre na faculdade e minha carreira que está começando para ir para outro país sozinha com esse cara, que eu nem pensava em apresentar para família e amigos?’ Ao me ver titubear, ele se ofereceu para pagar um mestrado na minha área na Inglaterra. O curso custava o mesmo que um carro de luxo. Nesse momento, achei melhor recuar. Ao investir tanto em mim e me tornar completamente dependente dele em terra estrangeira significava abrir mão da minha autonomia em um grau que eu não estava disposta. Ele foi embora do Brasil e, para ver como não era uma relação de amor, nunca mais nos comunicamos.”