O orgasmo da mulher depende necessariamente do clitóris?
“Ando com dificuldade de gozar. Nunca fui do time das rapidinhas, mas de umas duas semanas para cá, o orgasmo anda demorado e, muitas vezes, precisa de uma mão – além da penetração — para acontecer.
Não entenda mal, a transa anda boa como sempre. Delícia mesmo, curto cada segundo. Mas o clímax não chega, começo a ficar ansiosa, me preocupo com o cansaço que ele possa estar sentindo, e a situação só piora.”
O que relata Milena, mulher heterossexual, de 41 anos, atualmente em uma relação estável, é estatístico: mulheres comprometidas atingem orgasmo em 86% das relações sexuais, enquanto os homens gozam 95% das vezes. Para aquelas que fazem sexo casual, o clímax só acontece 39% das transas. Esses dados fazem parte de uma grande pesquisa sobre as práticas sexuais dos norte-americanos, realizada na última década. As garotas afirmam que o gozo é mais fácil e frequente por meio da masturbação ou do sexo oral. O fato é que existe uma disparidade orgástica: para cada três orgasmos dos homens, as mulheres têm um.
A diferença tornar-se menor entre homossexuais e bissexuais: 89% para homens gays, 88% para homens bissexuais, 86% para mulheres lésbicas e 66% para mulheres bissexuais, durante as interações sexuais.
Quando examinamos mais de perto o que pode explicar a lacuna do orgasmo, vemos que a penetração vaginal, talvez, não seja suficiente para o orgasmo, já que as lésbicas, que, em geral, se apoiam menos nessa prática, têm melhores índices de prazer do que as heterossexuais.
A questão atualmente estudada é: existem estruturas sensoriais internas na vagina que poderiam levar ao orgasmo ou a estimulação externa do clitóris é sempre necessária?
O debate do orgasmo clitorial x vaginal esbarra na psicanálise, na teoria evolutiva, na teoria política feminista, na fisiologia e na neurociência. Ufa!
E é fato que a ciência tem uma ideia do que seja esse estado de êxtase sexual, mas ainda não tem ideia de como se “chega lá”. Os orgasmos são um dos poucos fenômenos que ocorrem como resultado de uma interação altamente complexa de vários sistemas fisiológicos e psicológicos de uma só vez. Embora possa haver razões evolutivas para os homens serem mais propensos ao orgasmo durante o sexo, parte do problema reside no que acontece no quarto.
Segundo pesquisadores da Universidade de Concordia, do Canadá, o potencial orgástico da mulher inclui sim o clitóris, mas também o colo do útero, o ponto G e até a estimulação dos mamilos.
Isso reforma o que disse Beverly Whipple, uma das descobridoras do controverso ponto G: “O orgasmo em mulheres está no cérebro, pode ser sentido e estimulado de várias regiões do corpo, bem como a partir de imagens por si só”.
Mas como trazemos isso para a nossa cama, ao nosso corpo? Quanto mais conhecimento sobre as genitais femininas (especialmente sobre o clitóris), o parceiro tem, maior a probabilidade de a companheira gozar com mais frequência.
São os próprios pesquisadores que lembram: as estatísticas não contam quando se trata de sua própria intimidade. Não podemos criar nem desencadear orgasmos em nossos parceiros. Nós só podemos ajudar a torná-los mais fáceis, e mais agradáveis para eles. Habilidade sexual e capacidade de satisfação crescem com a prática, e a diversão do sexo não está no topo da montanha, está na subida até lá.