Em 2017, toda nudez será castigada?
As imagens que ilustram este texto são da série “Bodyscapes”, do norte-americano Alan Teger. Ao longo dos anos, esse psicólogo/fotógrafo tem fascinado adultos e crianças com a ideia de que duas realidades coexistem: trata-se de uma estação de esqui, mas também de bundas. É deserto, porém, ainda assim, pelos pubianos. É sempre possível haver diferentes percepções de um mesmo corpo, tudo depende de contexto.
Tiraram uma foto minha quando eu tinha entre um e dois anos de idade, estava em cima da bancada da pia do banheiro, em um sapeca momento pré-banho. E estava nua. O “flagra” da infância, naquele tom mais amarelado e bem menos definido dos da era digital, está em um daqueles pequenos álbuns de papel que se ganhava ao revelar fotos nas lojas, entre outras tantas cenas dos meus primeiros anos, como a boca suja depois da sopa e a brincadeira no jardim com os meus irmãos. Vejo, mostro e deixo verem essa foto como outra qualquer, em momentos de nostalgia, sem me intimidar.
A minha próxima foto sem roupa alguma foi adolescente, no consultório de um cirurgião plástico. Havia uma timidez, um constrangimento. Eu mostrava meus seios, dos quais tinha vergonha, os quais queria mudar radicalmente a ponto de me deixar cortar, doer e marcar com cicatrizes. Mas, assim como na primeira foto, não havia nada de erótico no ato de me despir diante de alguém e sua câmera, nem no olhar e no toque do médico. Eu conseguia compreender isso claramente, mesmo tão nova.
Anos depois, eu mesma me fotografei nua. Estávamos já na era das selfies, dos nudes, há muito tempo eu havia feito as pazes com o meu corpo, em todas as suas maravilhosas e imprescindíveis funções na vida, inclusive a sexual. Mesmo nos momentos em que me olhava no espelho e sentia vontade de diminuir, aumentar, subir e puxar certas partes da minha carne e da minha pele, eu nunca senti vergonha na hora do sexo. Despia-me sem pudores, sem luzes apagadas, na hora que encarnava a deusa sexual e sentia que minha forma era desejada.
Isso não me impedia de continuar sentindo-me insegura de biquíni na praia, no provador da loja diante da vendedora, no vestiário da academia. A nossa relação com a própria nudez é assim, contraditória, mutante, por vezes, confusa. Com a dos outros, é ainda mais complexa, porque traz elementos de atração e repulsa, sejam estéticas, sexuais, sociais. Mas, em todo esse imbróglio, é fundamental saber distinguir nudez de erotismo para que as relações com o próprio corpo e com o fato simples de que todos temos órgãos genitais, bundas, ânus, pelos, etc., sejam mais sinceras e compreensivas e menos censuradas e odiadas.
Seja na performance no museu de arte, na escolha por uma praia de nudismo, na amamentação no shopping center. Amemos os corpos humanos, naturais, tão nossos. E, surpresa, surpresa: na maior parte das situações da vida, aparecem desprovidos de erotismo.