O mistério do ovo
Uma colega jornalista me contou a fofoquinha sexual de hoje. Ela mesma – neste caso, apenas narradora da história – já usou o acessório em questão, o Egg.
Eu e Diego testamos também, mas não foi das experiências mais memoráveis. Não foi ruim, não foi maravilhoso. Comprei, experimentamos e pronto. Nunca repetimos – até por que é descartável. Quem sabe um dia tentamos novamente. A verdade é que não somos muito fãs de brinquedinhos na cama, costumamos nos bastar nós dois. E você? Curte um ovinho? 😉
A história:
“Estávamos em uma reunião de pauta em um estúdio paulistano. No caso, um programa de TV fechada voltado para o público-alvo feminino. Para quem não é do ramo, uma reunião de pauta consiste na participação de todos os envolvidos no conteúdo daquele programa para debater as ideias que serão, depois, roteirizadas. É mais ou menos assim, para simplificar. Geralmente, não se tem muita objetividade – ao menos naquele programa. Todo mundo fala ao mesmo tempo, abre-se um milhão de subtemas que, ao final, ficam bem distantes da pauta principal. Mas entra reunião, sai reunião, fala-se de sexo. Sempre. Always. E esse é sempre o ponto alto de uma boa reunião de pauta, ao menos naquele programa.
Bem, estávamos, então, ali reunidas: uma apresentadora perto de completar 50 anos, ainda muito moderna, descolada; havia uma colunista de jornal famosa até pra quem não era muito de ler jornal; havia uma atriz engraçada demais, falava coisa com coisa que acaba virando alguma coisa; e havia uma atriz famosinha.
Na frente das câmeras, falavam tudo que estava escrito no roteiro com propriedade. A colunista saía um pouco da linha, improvisava, levava bronca. A famosinha era aluna exemplar, estudava as referências dadas pelos roteiristas cheios de repertório e muito mal pagos, fazia as intervenções na hora certa. Enfim, cada uma ali, com suas características.
Corta pra reunião de pauta.
– Ai, gente, sério, é só usar um ovo que tá tudo certo, disse a atriz engraçada. Ovo, gente. Ovo. Aquela coisa maravilhosa. Ma-ra-vi-lho-sa.
Todo mundo riu. Pouca gente entendeu. O ano era 2011. Mas, na prática, todo mundo ainda nos anos 2000.
– Não acredito que vocês não sabem o que é o ovo, disse a apresentadora batendo firme na mesa, toda mandona, toda bancando a mudérna.
Mas e ela, sabia? Sabia. Rodou-se a mesa: eu sei, claro que sei, disse uma jornalista; ah, gente, jura que vocês estão rodando a mesa pra saber isso?, disse a produtora; eu sei, disse, seco, o único homem à mesa, um pesquisador antropólogo.
– Gente, sério, não tenho a menor ideia do que é esse ovo. Olha, quando eu viajo, o Fulano (marido ator famoso) me liga querendo fazer tele-sexo e até ali eu finjo que tô dormindo. Gargalhadas. A famosinha, já no segundo casamento com segundo marido, revelou ali mesmo que tinha preguiça de sexo por telefone. Mas que, pelo cansaço, tinha preguiça de sexo. Ponto. Nada mais humano.
Ali ninguém ainda usava o termo ‘dá um Google’, e muita gente ficou sem saber o que era o tal ovo.
Uma semana depois, no estúdio, o pesquisador colou na produtora.
– Tô com um ovo no porta-luvas. Quer aprender a usar?
A cantada foi a pior do mundo. Mas a curiosidade daquela garota com o famoso ovo, que rendeu tantas revelações naquela reunião de pauta passada, falou mais alto.
– Topo se a gente beber muito antes.
O cara levou a sério. A região até que era bem servida de motéis, mas já que a cantada foi tosca, ele achou que cairia melhor se fossem a um Ibis.
Chegando lá, começaram a beber. Beberam, beberam, pediram dois beirutes por delivery e mandaram brasa.
O pesquisador tirou da bolsa de couro tipo carteiro o tal ovo. Era um ovo mesmo, o formato, um ovo de plástico preto que, aberto, como um Kinder, continha uma surpresinha tipo aquelas gelecas dos anos 1980: consistência fria, mas gostosa; molinha, mas firme ao mesmo tempo; praticamente um fantoche para manuseio com os dedos da mão; internamente, rugosa, própria para massagear; por fora, lisinha.
O quarto, praticamente de acampamento militar, tinha uma luz branca, dura, sem abajur. Foi aceso mesmo. Ele tirou a calça social de pior caimento, vestia uma cueca branca folgada – horror dos horrores –, pinto quase perdido em meio ao matagal pubiano. Não foi tarefa fácil, apesar da bebedeira. Ficar ébria, naquela situação, era tudo o que a produtora mais queria.
Põe aqui, ó: e encaixou o ovo no pinto. Faz assim, ó: e moveu o ovo pra frente e pra trás. Não deu nem tempo de ela aprender como usar.”