Os limites do sexo limpinho
“Na minha adolescência, comecei tomando Yasmin. O ginecologista avisava que era “o mais moderno anticoncepcional do momento”, e com “baixíssima quantidade de hormônios”. Eu e toda minha geração tomamos aquela porcaria durante anos, no auge da nossa puberdade, sensações aflorando por toda a parte e, pronto, alguém tinha de acabar com nosso barato. Tomar aquela porcaria me manteve ~nos eixos~, eu não queria dar pra ninguém. Ficava dias e dias e dias sem ter o menor tesão. Até que começaram a surgir novos anticoncepcionais, novos estudos e, sobretudo, novos meios de divulgação com novos profissionais falando verdades inconvenientes sobre os anticoncepcionais femininos. Parei. E quando eu parei…
…um mundo novo se abriu. Minha nossa senhora: eu descobri que tinha todas as versões de xota, xana, peito, cu e dedos maravilhosos. Descobri as sensações todas que ficaram por anos ali, neutralizadas. Ô, coisa maravilhosa. E com as descobertas, fui dando por aí. Por aí, assim, selecionando, claro, mas fui dando. Dei gostoso. Dei dei dei. Mas dei…
…limpinho. É. Dei limpinho. Porque eu fui criada com pai e mãe infectologistas. Pense numa casa limpa. Agora pense numa casa superlimpa. Pensa numa mãe que varria meu quarto à noite, quando eu já estava dormindo, só pra garantir que tudo estava limpo. Pense numa família que, ao viajar, chegava na pousada e criava uma Operação Assepsia, cada um com sua tarefa, antes de se instalar no quarto?
Agora pense numa moça de 25 anos, explorando os moteis da cidade de São Paulo. Pense num cenário caótico, pense nos mosquitos caídos mortos na piscina do quarto de motel classudo. Pense numa cama “limpa” cheia de pentelhos e fios de cabelo? Pense. Agora visualize: mulher de 25 anos, corpo de nadadora semiprofissional, ombros larguinhos, menos bunda do que gostaria, coxas torneadas, bracinho com músculo aparente, sem a pelanca do tchauzinho, peitinhos 46 com silicone lindos lindos, depilação 1980 (ano que eu nasci) só pra me diferenciar, cinturinha, unhas dos pés feitas. E uma fome de dar.
Mas. Dentro da ecobag. A todo momento. E pra toda hora. Visualize. Vai visualizando. Sim: álcool, um frasquinho discreto; detergente líquido, outro frasquinho discreto; uma nécessaire inteira que poderia ser de uso pessoal. Era de uso pessoal. PARA A LIMPEZA DO MOTEL. Limpeza. Tinha até frasco de limpa-vidros, vai que a sujeira não saísse?
Eu entrava antes, corria pro banheiro. Ligava o chuveiro pra fingir que ia tomar banho. Jogava álcool na privada. Uma aguinha sanitária no chão do box. Borrifava limpa-vidros onde minha mão pudesse encostar. Onde minha bunda nua pudesse encostar. E rapidamente me sentia segura. Empoderada. Maravilhosa. Saía dali de fio dental sem tirar o salto agulha do trabalho. Ficava linda, alta, bunda empinada. Dependendo do boy, saía sem sutiã. Às vezes, mantinha, pra ver como o cara tirava. Às vezes saía de saia e sem calcinha, sem sutiã. Mas o banheiro estava limpo. Que sensação. Tesão, será?
E vinha a foda. A cama não tinha jeito. Era mentalizar uma luz azul, do limpa-vidros, que tudo ficava bem. Rala e rola. Pinto em tudo quanto é lugar. Pode vir que eu tô mentalizando a… limpeza. É. Cada um com a sua tara. Limpeza. Huuum. Aaaaah. Delícia. Se o cara tinha cheiro de limpo, então, dava mais forte, me abria toda. Sentava na cara. Esmagava. Sentia aquela língua na xota. Até aquela língua mais desajeitada eu topava. Cheiro de amaciante exalando pela cueca que agora eu fungava enquanto ele me chupava.
Mas na hora de eu chupar de volta… Pra mim não dava. Aquele pinto tava com o cheiro da minha buceta. Eu não queria comer minha própria buceta. Cada um com a sua tara. Veja bem. Eu já tinha meus paranauês. Esticava o braço, deixava a ecobag ali do ladinho, enfiava a mão na nécessaire e o tubinho de calda de canela já no jeito. Vinha com tudo. Aaaaah, a canela em caldas. Só ela pra devolver meu tesão de chupar pinto com gosto da minha xana. Ela resolvia tudo, a calda. Eu abocanhava, mordia, apertava. Os boys adoravam. Até que um dia desses, na hora de alcançar a nécessaire, peguei o tubinho de… álcool gel. Tinha sabor morango, pra disfarçar minha mania. Senti o cheiro, mas já era tarde. O boy falou que tava ardendo. Achei que era frescura. Quando vi, gel antibactericida de cranberry. Empipocou e tudo. Paramos no pronto-socorro. Papai e mamãe dando plantão no prédio ao lado da Infectologia. Foi foda.”
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