Eu lembro a primeira vez que vi um casal gay andando de mãos dadas na rua. Era 1994, eu era adolescente e estava em São Francisco, na Califórnia, que, na época, era famosa como cidade liberal, gay-friendly.
Anos mais tarde, quando a cena se tornou corriqueira na Avenida Paulista e outros cantos de São Paulo, me recordei de como eu tinha sentido orgulho do mundo que eu presenciava nascer, onde as pessoas eram livres para amar quem quisessem, serem quem desejassem. Isso fazia muito sentido e era bom testemunhar essa mudança. Ali, eu me enxergava como espectadora, não conseguia entender que uma sociedade mais igualitária tinha um impacto direto na minha vida como mulher heterossexual, solteira, latino-americana.
Foi no ano passado que eu presenciei uma nova revolução. Da mesma forma como havia acontecido antes, já ouvia falar da liberdade sexual dos adolescentes. De como eles experimentavam muito mais, de como se relacionar com pessoas do mesmo sexo, em algumas rodas, era tratado como parte da descoberta típica da idade. Eu ouvia e achava o máximo, até porque não me sinto tão distante assim dessa geração (por alguma falta de lógica do tempo, eu me sinto muito mais próxima deles do que eles de mim — risos).
Pois eu estava na linha verde do metrô, horário de saída dos colégios e faculdades. Entrou no um grupo de quatro, eu chutaria entre 16 e 18 anos. Um garoto andrógeno e três meninas, mochila nas costas, várias palavras por segundo. Uma delas estava contando sobre um dilema qualquer de relacionamento amoroso: dela com uma menina. Ela contava com naturalidade, os outros palpitavam como mais naturalidade ainda. Não havia intenção de chocar os demais ocupantes do vagão – que se estavam ouvindo como eu, não expressaram nenhuma expressão de aprovação ou reprovação.
Mais uma vez, fiquei assistindo com interesse a esse timelapse das gerações, das décadas, da vida. E, por fim, hoje recebo o e-mail da Soraia, uma garota de 18 anos, que traduziu em um discurso prolixo como é ser jovem e fazer sexo em 2017. Seguem trechos:
“Por mais que não tenha vivido todo tipo de experiência ainda, tenho um relacionamento aberto e acho válido compartilhar. Perdi minha virgindade aos 16, com um cara com quem eu não tinha intimidade, bêbada (não o suficiente para esquecer de tudo), mas não estava no meu completo juízo. Enfim, deu no que deu e por mais que muitas vezes eu tenha me achado uma vagabunda por ter feito isso, nunca me arrependi. Não me arrependi e também transei muito nesse período que perdi a virgindade até finalmente transar com o Edson, por quem tenho uma paixonite. Quando finalmente transamos, foi em uma tarde, ele mora em uma cidade vizinha, eu inventei uma desculpa e fui pra casa dele. Acho que nunca sentei e rebolei com tanto tesão como naquele dia. Quando terminamos eu fiquei deitada, sem fôlego, olhando o nada, ele se levantou e acho que essa foi uma das cenas mais lindas que já vi, aquele menino pelado na minha frente, depois de ter gozado muito comigo.”
“O sonho dele era fazer um ménage, e resolvi contar que eu já havia pego uma amiga nossa, que ele também já havia pego, a Luiza. Não só a peguei, como a masturbei e a chupei muito. Nós duas mantínhamos isso em segredo. Muitos já desconfiavam que ela era lésbica, ou bi, mas ninguém nunca confirmou, ultimamente ela está se abrindo mais sobre isso. Eu e a Luiza resolvemos finalmente conversar sobre o que tinha rolado entre a gente, porque sempre ficava um receio. A gente agia normalmente uma com a outra, mas quando o assunto era sexo, ficava sempre um clima. Não queríamos assumir o tesão que a gente sentia por outras mulheres, o sexo lésbico, ela foi a primeira em que eu beijei e eu também fui a primeira dela.”
“Rolou um beijo triplo, não era o primeiro dela e nem dele, mas era o meu, foi sem dúvidas a melhor coisa que fiz na vida! Depois de muitas mãos envolvidas, eu não resisti em ajoelhar e bater um boquete pra ele, já que a gente já se conhecia muito bem. Paramos por aí, e a possibilidade de rolar mais coisa é grande num futuro próximo.”
“Não pretendo assumir que sou lésbica ou bi, até porque o quanto eu gosto de um pau entrando, não tem explicação. E ainda sou apaixonada pelo Edson, sofro muito, sempre sinto ciúmes, quero mais que sexo e amizade e não sei se passaremos disso, mas com certeza todas as experiências foram sensacionais. Ele ainda me dá um tesão que não alcanço com mais ninguém, várias vezes estamos sentados abraçadinhos na sala de aula, por exemplo, e eu estou fazendo um carinho na coxa dele, ou mesmo no pau, disfarçando pra ninguém perceber. Várias vezes, em festas, no meio de shows, faço isso, parece que é um imã, e minha mão vai direto. E é tão bom quando ele olha e diz ‘para, como vou ficar aqui de pau duro’, eu faço uma cara de safada e digo que assim que eu gosto, e sei que ele gosta também.”