Vaca, galinha e piranha
Esta semana, Michelle me contou um episódio aparentemente banal que aconteceu em um dos corredores do supermercado.
– Galinha!, ela ouviu uma voz que parecia de criança – e era!
Passaram por ela um menininho que tinha acabado de chamar a irmã deste nome tão “vulgar”, a garota e o pai. A menina, irmã mais velha do garotinho, não parecia ter dado bola para a tentativa de xingamento. Ela sorria de canto de lábio. Achou bonitinho o irmãozinho chamá-la assim? Talvez. Parecia ter seus 11 anos, enquanto o menino teria 8, acho. O pai, do alto de seus 38 anos, se certificou do que tinha ouvido antes de fazer o alerta.
– Do que você chamou sua irmã? Você não fale mais isso!
Fiquei pensando em como, logo cedo – tão cedo! –, os meninos começam a rebaixar as qualidades sexuais das meninas, como se fosse algo terrível, uma mancha na reputação.
Quando Michelle me relatou a história, pensei que a palavra estava em desuso. A última vez que ouvimos a expressão eram os anos 1980, 1990. “Galinha”, que palavra vintage, afinal, que sobrevida, que resistência ao longo dos anos!
Mas Michelle continuou a me contar que, depois de voltar de um plantão de 36 horas, uma médica baiana radicada temporariamente em São Paulo, avisou:
– Hoje vou “raparigar”!
Rapidamente reconheci que o verbo derivava de “rapariga”, um equivalente ao nosso galinha dessas bandas paulistanas. Achei graça. E fiquei pensando no significado das palavras. Por coincidência, a mãe paraibana de uma amiga paulistana recentemente se desentendeu com sua cuidadora, a quem achava que estava dando em cima de seu marido.
– Sua rapariga! Se ponha pra fora da minha casa!, disse ela à cuidadora que, ofendida, nunca mais apareceu para retirar seu pagamento.
Na cama, Michelle me disse as palavras que mais adorava ouvir de seu amante:
– Vaca!, enquanto ele apertava uma das polpas de sua bunda.
– Piranha!, ao perceber que ele já tinha enfiado um dos dedos no seu cu.
– Putanha!, enquanto ela urrava de prazer.
As palavras, ah, as palavras.