De princesa delicada a deusa gótica
Uma aula de desconstrução de estereótipos por uma garota corajosa e senhora do seu próprio prazer. Mas sem sisudez, o texto é delícia. Aproveitem.
“Depois de quase morrer por um problema cardíaco diagnosticado, por acaso, aos 27 anos, resolvi mudar totalmente de vida: aprendi a andar de bicicleta com um “bike-anjo”, não adiei mais em nem um minuto o término de um namoro há muito tempo em estágio terminal, avancei no meu vegetarianismo e me tornei vegana e a convidei pra sair comigo em uma terça-feira depois do trabalho.
Nos conhecemos em um ambiente corporativo, em uma dessas empresas famosas da indústria de alimentos. Assim que minha sexualidade ficou clara pra mim, vivi meus amores adolescentes sem nenhum problema como lésbica. Ela, não. Era apenas cinco anos mais velha que eu, mas vinha de uma família tradicional e conservadora. Na empresa, eu jamais teria imaginado que ela gostava de mulheres. Mas depois de ficar entre a vida e a morte, isso também não importava: larguei mão de ficar tentando adivinhar a sexualidade das pessoas e resolvi me arriscar mais. O que eu teria a perder?
Na melhor das hipóteses, eu teria uma nova amiga.
Passamos a noite inteira conversando. Eu olhava profundamente em seus olhos; ela desviava, envergonhada, e assim eu conseguia apreciar ainda mais aquele perfil, nariz empinado, maças salientes. Eu procurava nela qualquer sinal a que estava condicionada dentro da minha sapaland, e foi com ela que aprendi que:
1) Somos todos parte da criação de estereótipos, e isso não é exclusividade da heterolândia conservadora;
2) Eu não preciso ser uma butch ou ~caminhoneira~ pra gostar de mulheres lésbicas ultradelicadas;
3) Uma mulher que gosta de mulheres também pode gostar de homens, e isso não é da conta de ninguém;
4) Uma mulher delicadíssima pode ser passiva, mas também pode ser ativa – assim como ela foi comigo quando resolvemos ir pra um motel, me arrepio só de lembrar.
Já no quarto, resolvemos tomar banho juntas, acariciar nossas depilações de mesmo desenho, o que gerou certa descontração e início de um papo-cabeça desnecessário para o momento. “Essas depilações vão acabar com a saúde das nossas chanas”, ela soltou, arrancando de mim uma gargalhada nervosa. Madura e segura de si, naquele momento ela me encarou olho no olho, chegando mais perto, enquanto a gente conseguia sentir a respiração uma da outra. Suas mãos já estavam bem-posicionadas, afofando minha bunda pequena, enquanto seus dedos da mão direita encontravam um ambiente quente e úmido da minha excitação vaginal. Aquela deusa agora parecia uma mulher gótica, com o rímel escorrendo pelas suas maçãs, transformando-a em uma vampira que telepaticamente entendeu que beijar meu pescoço me levaria às alturas. Só saímos daquele chuveiro quando nossas peles, já enrugadas, pediam um ambiente seco e sem vapor. Caímos no sono com a mais entediante pornotevê ligada, a indústria que pouco ou nada sabe do erotismo que faz gozar.”
Hétero, homo, bi, o escambau…conte sua história para carmenfaladesexo@gmail.com