Minha pós-verdade sexual
Pessoal, este relato que chegou é tão bem escrito e maravilhoso que eu prefiro nem dar detalhes da autora. Apenas leiam e se deleitem nesta sexta-feira à tarde – como ela mesma deve estar fazendo neste instante (ou não!).
“Depois de anos trabalhando em ambiente corporativo, abri meu negócio e passei a trabalhar em esquema de home office – um escritório iluminado por luz natural, com janelão e mesa posicionada para o quintal tropical na vila onde fica minha casa, antes tão pouco habitada pela rotina executiva.
Acordava pontualmente às 6h45, dava comida para meus dois gatos Himalaias e minha cachorra viralatinha, ligava o kettle elétrico pra fazer meu chá de limão espremido, meditava 5 minutos, trocava de roupa e… seguia para meu escritório com plantinhas suculentas e móveis de madeira com design escandinavo. Eu era o puro clichê pós-hipster endinheirado, com tatuagem feita com brasileiro residente na Dinamarca, especialista em pontilhismo.
Respondia meus e-mails, lia os jornais digitais – os de sempre, os independentes, os americanos, um inglês –, me irritava, me entediava e… aproveitava aquela vibe toda e abria o site da Erika Lust. Soft porn, pra quem não sabe. E batia uma siririca em homenagem ao colega de faculdade, depois ao colega de trabalho gay-gato que aparecia no insta, depois à colega de curso de artes plásticas que tinha acabado de dar um like numa foto minha. Voltava ao trabalho, fazia uns contatos. Olhava pela janela.
Aquela rotina estava acabando comigo.
Trocava de roupa, por volta do meio-dia. Metia uma calcinha fio-dental pra me excitar e me imaginava andando pela rua com minha saia-lápis e alguém me desejando ao olhar minha bunda com aquela silhueta. Fechava a porta do quarto para os animais ficarem do lado de fora. Baixava a cortina, pra não correr nenhum risco, deitava na cama e fazia sexo intenso comigo mesma. Pensava no tesão que qualquer um teria ao me ver ali, me deliciando com meus peitos tamanho 44, minha barriga lisinha, minha buceta molhada, com a depilação meio por fazer. E me excitava ainda mais.
As amigas mandavam mensa no grupo. Um saco. Mas o convite pra cerveja artesanal era mais forte do que eu. Seguimos pra Mooca, bar lotado de barbudo com aquela chuquinha ridícula que todos os caras agora resolveram usar. Ninguém era real. Bando de publicitário inseguro poser do caralho. Me excitei. Pego qualquer um aqui nessa porra, pensei. Peguei. Levei pra casa. Segui meu ritual. E chamei a Luna. O cara ficou de quatro. E foi embora ao meio-dia.
Agora bate uma pra mim. Na próxima, eu menciono você, filho da puta”.
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