Pense antes de puxar o braço dela na balada…
Eu planejava sentar ao computador e relatar mais histórias de fetiches e transas, mas hoje, meus queridos, o papo vai ser um pouco diferente.
Se você entrou aqui para ler algo prazeroso, excitante, não se frustre. Em nome da nossa relação tão gostosa :-), gaste uns minutinhos para ler o que eu tenho para dizer.
Não sou a primeira a falar, mas é sempre bom deixar registrado: o que aconteceu esta semana no Rio de Janeiro não ter nada a ver com o tema deste blog, que é sexo, desejo e prazer.
O estupro de uma menina adolescente por 33 homens é violência, é barbárie, é destruição pela força, pelo desrespeito, pela certeza da impunidade.
Se você é homem, pode estar pensando: “Eu nunca faria isso” ou “Eu não sou como esses caras”.
Individualmente, provavelmente não. Mas coletivamente, nas pequenas atitudes e em outras não tão pequenas assim, o abuso masculino sobre a mulher tem se perpetuado, e permanece como algo aceitável (!) na sociedade. Está aí para confirmar uma outra história recente, do avô delegado que abusou da neta e foi absolvido.
Quando eu era adolescente, fui algumas vezes à matinê de domingo em uma danceteria (era assim que a gente chamava as casas noturnas, né?).
Eu adorava música, gostava de dançar, rir e conversar. Mas detestava ir àquele lugar. Porque enquanto as meninas, todas adolescentes, circulavam pelo ambiente, os garotos – da mesma faixa de idade – formavam um corredor humano. E puxavam braço, cabelos, pegavam pela cintura as garotas que passavam e eles julgavam, na penumbra e em poucos segundos, que eram atraentes o suficiente para tentarem ficar/pegar/beijar/amassar.
Havia alguns mais insistentes, outros menos. Havia meninas mais experientes, outras menos. Para mim, aquilo era perturbador. Porque eu me sentia violada. Mas ao mesmo tempo, tinha a insegurança adolescente de que se não fosse assediada, não era desejável. Ou seja, não havia alternativa confortável.
Gritar, fazer cara feia, empurrar o cara pra se esquivar não era algo que a maioria das garotas sequer cogitava. Porque ali a regra era essa: homens escolhiam, homens se achavam no direito de tocar um corpo sem permissão. E ai se a menina não desse ao menos um sorrisinho. Já era taxada de chata ou baranga.
Anos depois, acompanhei a história de uma amiga que conheceu um cara de outro curso da faculdade. Ficou apaixonada. Sim, ela deu mole para ele. Sim, ela queria transar com ele.
Até que finalmente aconteceu. Da faculdade pro bar, do bar pra balada, da balada pro apartamento dele. Na cozinha, ele ofereceu a ela algo para beber. E ali mesmo, encostados na pia, começaram a se beijar.
Logo minha amiga começou a sentir as duas mãos pesadas do moço em seus ombros. Ele a pressionava, com força, para que ela se ajoelhasse e chupasse o pau dele.
Sem falar nada, sem pensar em fazê-la se sentir à vontade nesse primeiro encontro, sem deixar que ela tomasse a iniciativa de querer dar esse prazer para ele, o cara praticamente a jogou no chão.
Além desses dois episódios, eu poderia falar dos maridos e namorados tão amáveis, companheiros e apaixonados em fotos no Facebook e no Instagram, mas que insistem no anal, no ménage, no sexo diário, quando a mulher não quer. Às vezes, não há ameaça física nem verbal. Apenas a sugestão de que se ela não fizer, ele vai procurar outra. Isso é chantagem, violência, assédio também.
Esses relatos, talvez um bocado mais próximos da sua ou da minha realidade do que um estupro coletivo, fazem parte da mesma cultura. A cultura do estupro.
O remédio para a sociedade doente não é mulheres mais vestidas, mais recatadas, mais privadas de direitos. É consenso, respeito e igualdade. Com isso estendido sobre a cama, aí sim vale tudo. 🙂