Se uma garota numa noite de inverno…
A mudança de temperatura em São Paulo nas últimas semanas e a minha estreia como autora do X de Sexo me fizeram refletir sobre como é transar em dias frios.
O verão como a época mais quente também sexualmente falando é algo real ou apenas um estereótipo da estação? E, em contrapartida, o sexo é mesmo mais romântico no inverno?
Fui assuntar por aí. No geral, o consenso foi que não tem diferença na vontade, mas, sim, no astral, nas posições, na intenção. “No inverno rola mais o tesão do afeto, a conchinha, o fazer apertadinho pra aquecer”, disse minha amiga Frida*, em uma troca de mensagens na madrugada.
Melissa*, amiga casada que curtiu as aventuras mais loucas na época de solteira, em vez de divagar sobre o tema, preferiu me contar uma história que viveu há muitos anos numa noite fria e que eu, com prazer, relato agora.
“Era uma daquelas festas caídas na casa do amigo de um amigo. Eu não conhecia ninguém, mas fui com a Tânia, com quem eu compartilhava todos os meus momentos sociais na época da faculdade.
Não tinha muita gente na casa, que era térrea, com um jardim mal cuidado nos fundos. As pessoas se espalhavam pela cozinha, onde havia cerveja, refrigerante e doritos, e pela área externa, onde os baseados e punk music esquentavam os corpos naquela noite gelada. Gargalhadas, fumacinhas e vaporzinhos saíam das bocas ao relento.
Eu estava meio deslocada – ainda tinha resquícios da adolescente sem traquejo social e virgem que eu tinha sido até bem pouco tempo atrás. E sentia frio, estava de minissaia preta e botas, sem meias. Me refugiei no largo sofá da sala, onde não havia ninguém, mas a TV estava ligada, passando videoclipes (eram os anos 90!).
Devo ter ficado pelo menos uma hora ali, sozinha, aconchegada entre almofadas que me esquentavam as pernas. Foi quando o Kevin, amigo da Tânia que havia nos dado carona até a festa, chegou e sentou do meu lado. Bebia uma latinha de Skol. Não falamos nada. Encarávamos a televisão.
Eu não me dei nem mesmo ao trabalho de tentar buscar um assunto para puxar. Kevin tinha uma aparência e uns papos que inibiam a mocinha tímida que eu era. Cabeça raspada, cavanhaque de quase um palmo, tatuagens e piercings aos montes. Falava de bandas que eu não conhecia e drogas que eu não consumia. Mas isso me assustava e, ao mesmo tempo, ali, naquele silêncio embalado pela MTV, me instigava.
Então, rolou o que meus instintos já me alertavam que aconteceria: ele começou a se inclinar, chegando mais perto. Primeiro, ombro, depois braço, por fim, pernas. Aquele corpo grande, tão próximo, exalava um calor que me despertou. Senti os bicos dos meus seios se arrepiarem e apertei uma perna contra a outra. E, então, ele fez a coisa mais estranha e ao mesmo tempo mais erótica da vida de uma garota de 19 anos. Colocou o dedo médio dentro da minha boca. Com as luzes acesas e sem uma palavra, eu instintivamente comecei a chupar lentamente, primeiro um, depois dois dedos dele. Ficamos nessa por um bom tempo até passos nos alertarem que alguém se aproximava da sala e paramos.
Quando a festa miou de vez, Kevin nos deu carona novamente. Um amigo dele, Lucas, também entrou no carro. Eu ainda estava na adrenalina do que havia acontecido, mas fingia normalidade.
Eu tinha combinado de dormir na casa da Tânia, mas quando chegamos lá, ela percebeu que havia esquecido a chave. Naquele frio, na calçada de uma rua escura, nós quatro debatíamos o que fazer – tocar a campainha e acordar os pais dela? Enquanto isso, Kevin disfarçadamente apalpava a minha bunda. E logo sugeriu: ‘Vocês podem dormir em casa, o Lucas também vai.’”.
Tânia, sem perceber o que estava rolando por baixo da minha saia, topou, toda animada. Eu não acreditava que tudo estava conspirando para que aquele nosso jogo erótico tivesse continuação. Entre a volta para o carro e a chegada à casa dele, Kevin não perdia a oportunidade de me assediar sem que os outros notassem.
Era madrugada, fazia muito frio, e Kevin morava sozinho. Tinha apenas uma cama de casal, um edredom, dois travesseiros. E éramos quatro para dormir. A sugestão foi que dormíssemos todos na cama, as mulheres viradas para a cabeceira e os homens para o pé. Kevin deu um jeito de deitar entre mim e Tânia.
Eu sentia um frio na barriga de imaginar o que aconteceria quando a luz se apagasse. Deitamos de roupa mesmo. Não deu outra: meus olhos nem tinham se acostumado com o escuro e senti a mão de Kevin entrando pela minha calcinha.
Eu já estava muito molhada – pelas preliminares na festa e na escuridão do caminho, pela antecipação, por haver duas outras pessoas na cama conosco que nada sabiam.
Ele, sem hesitar, começou a me masturbar. Sabia como fazer. Alternava fricção no meu clitóris com penetração dos dedos na minha buceta, do mesmo jeito que havia enfiado na minha boca, horas antes. Escondidos, clandestinos, no perigo do flagra, era excitante demais.
E eu segurei o pau dele, que parecia em brasa. Sem visão, apenas no tato, bati uma punheta pra ele discretamente, para não chamar a atenção. Tânia reclamou que ele não parava de se contorcer. Meu frio na barriga voltou e diminuí o ritmo por uns segundos, quando acelerei, senti logo a porra fervendo escorrer pelos meus dedos.
No dia seguinte, acordei com a mão ainda suja de porra seca, a prova que não havia sido só um sonho erótico. Corri pro banheiro. Tânia veio atrás de mim para contar, ainda ensonada, mas indignada, que Lucas havia passado a mão nela durante a noite. Ouvi quieta.”
* nomes fictícios.