Sem sexo, mas sem perder o gosto por ele, por favor!
Acabo de abrir o e-mail do blog e me deparo com esta carta de um dos nossos leitores. Ele faz referência ao último post de Diana, sobre o não sexo, sobre a preguiça que impera no cotidiano de um casal –e outros afazeres que fazem o sexo ficar em segundo plano. Essa é uma bela visão masculina, que resume a questão de um modo pragmático e, por que não?, otimista. Você até pode não fazer sexo, mas não pode perder o gosto por ele. Discorda, concorda? O que você acha?
Muito obrigada, P. A., pela contribuição (sim, essas são as iniciais do nome dele, e não significa o universal PA de pau amigo, rssss).
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Lá vou eu meter o bedelho novamente. Prontas? Em primeiro lugar, gostei muito do texto da Diana. Imediatamente lembrei-me de um artigo muito bom publicado aqui na Folha pelo Contardo Calligaris. Em “O que quer um homem?”, ele discorre sobre qual seria o grande desejo masculino. Chega à conclusão de que o pano de fundo dos anseios do macho é o seu desejo pela a aventura. Recomendo a leitura. Lógico que toda vez que se fala em padrão, há quem seja exceção. E também é um tanto perigoso achar que, por extensão, se os homens desejam aventura, as mulheres devem desejar segurança. Tem que ir com calma pra não ficar reducionista (e machista). Mas assumindo que, em tese, o grande desejo masculino seja de fato a tal “aventura”, vamos tentar entender a questão que você propõe: sexo uma vez por semana é grave?
Voltemos ao início de um relacionamento padrão. Geralmente, cabe ao homem tomar iniciativa no jogo da conquista ainda que, hoje em dia, muitas mulheres o façam. Mesmo assim, independente de quem esteja “conduzindo a dança”, inevitavelmente a pergunta que está sendo feita durante todo o jogo da sedução é sempre uma só: por que eu deveria dar pra você? O ônus de “provar” que é digno de interesse é quase sempre masculino. É o homem que apresenta seus dotes (às vezes literalmente) no sentido de convencer a mulher de que ela deve lhe conceder mais um encontro, mais um drinque ou deixá-lo subir em seu apartamento. Em outras palavras: embora a “dança do acasalamento” seja sempre dançada a dois, em geral cabe ao homem demonstrar que é bom dançarino e que merece mais uma dança.
Pois bem. Você casou. Ou foi morar junto. Ou está namorando há um tempão. A façanha da conquista vai sendo paulatinamente substituída pela rotina do casal. Esse é um processo natural que faz parte do amadurecimento da relação. É o “viver junto”. Aos poucos você vai ajustando horários, hábitos, gostos, enfim… vai moldando e sendo moldado pela relação. Os hábitos sexuais também. No começo, sempre há mais curiosidade sobre como, quanto e quando o outro gosta de transar. Conforme a aventura vai desaparecendo, torna-se normal que as 2 ou 3 trepadas que rolavam por dia (principalmente se vocês ficavam muito tempo sem se ver), se transformem em 2 ou 3 por semana, no convívio cotidiano. E depois 2 ou 3 por mês .. e por aí vai.
Há outras coisas que vão tomando o interesse do casal: grana, trabalho, carro, casa. Depois de um tempo, o sexo vai se tornando tão “raro” que você entra no “modo de segurança”. Ou seja: só faz aquilo que sabe que vai rolar. Você não tenta trepar na quarta feira porque sabe que ela vai estar cansada. Deixa pro domingo. Você não tenta pegá-la na cozinha porque tomou uns tocos 2 ou 3 vezes. Melhor ir apostar as fichas na cama e no quarto. Você nem pensa em se engraçar ao acordar de manhã, afinal ela está com bafo, descabelada, mal humorada: é “não” na certa. Melhor deixar pra noite. Pronto. Sua transa tem local, data e horário pré-agendados. Tão gostoso (e desafiante) quanto dançar com a tia na festa de família. Houston: we have a problem.
Some aí um outro aspecto muito importante que você também mencionou: filhos. Recentemente a Tati Bernardi, também colunista da Folha, deu uma entrevista à revista Trip. Entre outras coisas bacanas, ela disse o seguinte sobre este tema: “Mas, depois dos 34, comecei a ter uma vontade violenta de ser mãe, e agora eu tenho um namorado que é a pessoa que eu mais amei na vida. (..) Aos 36 anos eu estou inibindo meus fetiches para poder ser mãe”. Acho essa declaração do caralho. Afinal, não é isso que se passa no corpo e na mente de tanta gente nessa idade? Homens e mulheres!
Nossa sociedade convencionou que nessa “faixa dos 30” é a hora de você consolidar sua carreira, ter os filhos, formar a família. De forma que o desejo sexual, bem .. para ele só sobrou um espacinho no domingo à noite, entre o final do jogo e o começo do “Fantástico”. Adeus, aventura. Certo? Errado. Adeus aventura a dois, isso sim. Freud dizia que nenhum desejo nunca é totalmente reprimido. Sempre vai para algum lugar. E vai mesmo. Alguns são canalizados para a pornografia. Outros para a prostituição. Muitos para o uso abusivo de drogas (álcool, incluso). E até mesmo para a comida. No caso do seu amigo, migrou para os casos extra-conjugais.
Veja. Não estou querendo “passar o pano” nas atitudes do marmanjo. Nem vamos cair na tentação de fazer um julgamento moral. A questão é outra: o problema dele não está na quantidade de vezes que transa com sua mulher, mas na rotina sexual que eles estabeleceram (no caso a periodicidade do sexo). Talvez ele estivesse mais feliz se transasse menos, mas com mais qualidade. Se ao invés de ter dia e hora marcado, eles se permitissem sair da rotina. E sim, isso é tarefa dos dois.
Quem sabe, ela poderia mandar uma mensagem no meio da tarde (com fotos?), o desafiando a chegar mais cedo, por exemplo. E ele poderia, talvez, desafiá-la á contar suas fantasias mais secretas, bem baixinho, em seu ouvido. Será que ela não toparia assistir ele trepando com a gata? Ou será que ela mesmo não gostaria de comê-la? Quem sabe a três. Ou ainda aquele menage pudes se se tornar um swing. Quem sabe?
A vida a dois é um grande desafio. É um mundo novo, repleto de possibilidades e descobertas infinitas… todos os dias. E não há nada pior do que perder a vontade, o tesão por desbravar mais e mais. Lógico que –e ninguém se iluda– é impossível estar em peripécias todo o tempo. Mas é importante não perder o gosto por elas.
Um abraço!