Boneca inflável versão século 21
Por Rebeca
Essa moça abaixo se chama Olivia. Loira peituda de uns 20 e poucos anos que cabe no sonho da maioria dos homens, ela pode ser sua por mais de US$ 6.000. Faz muitos movimentos do sexo, agacha, fica de quatro, abre as pernas praticamente do jeito que você quiser, mas não fala e não serve café na cama. Ah, não tem saliva também –é impossível o sexo oral. Sua pele é macia, de silicone de alta qualidade. Sim, silicone.
Olivia não é a única boneca de borracha da RealDoll. E a RealDoll não é a única empresa americana empenhada em fazer bonecas e bonecos perfeitos para o sexo. Esqueça aquela coisa horrenda inflável que dominou a imaginação e alguns quartos no fim do século 20.
A Folha falou da fábrica da RealDoll em reportagem de julho e agora em setembro o espanhol “El País” trouxe texto sobre outra empresa, também californiana, a Sinthetics. O “New York Times” publicou, em junho, em seu site um vídeo com o dono da Real Doll, Matt McMullen, falando sobre a nova realidade no mundo das bonecas para sexo.
Porque, um passo adiante, ter uma cara perfeita como essas bonecas que você vê espalhadas pela página não é mais o foco. O objetivo é criar, com a ajuda da inteligência artificial e da robótica, bonecas que interajam com seu parceiro. Sim, que falem, pisquem, coloque a língua para fora (como essa língua vai ser úmida, sei lá quem sabe).
Primeiro eu fiquei encafifada com essa história de bonecas tão perfeitas, que podem ser encomendadas de acordo com o gosto de cada um: cor da pele, tamanho do cabelo, batom da boca, cara de piriguete ou de mais velha. Você pode colocá-la na posição que quiser, articular o rosto, fazer cara de tesão ou de relaxamento pós-sexo –elas realmente parecem seres humanos.
Isso já é uma loucura! Qual o tamanho da timidez ou da reclusão social de alguém que decide não recorrer à mesa de bar ou até ao Tinder (aplicativo para encontros) para arranjar um parceiro. Ou, mesmo, recorrer a um profissional do sexo, ser humano pago para te dar prazer e também para falar no seu ouvido o que você quiser –com certeza dá para arranjar belas opções por menos de US$ 6.000.
Daí o cara quer inventar uma boneca que fale, que interaja com o parceiro, e não vamos duvidar que ele chegue lá em breve, dado o avanço tecnológico que vivemos hoje. Chegaremos já já à era dos Jetsons, aquele desenho animado do futuro, em que a empregada doméstica é um robô (claro que essas “meninas” aqui são beeeem mais bonitas).
Você vai poder ter uma robô gostosa em casa, que faça sexo e fale, de repente realize os afazeres domésticos também. Afinal, ela custa caro. Vai ter muita gente por aí querendo casar com boneca de borracha. Mas, meu santo, quem são esses seres humanos que podem querer uma coisa dessas? E o que se passa na cabeça do inventor, que quer fazer isso virar uma realidade? Diz ele, no vídeo publicado pelo “New York Times”, que primeiro se trata de curiosidade, ele quer ver se dá certo.
Eu já fico louca quando penso na boneca de borracha –Olivia, Alicia ou April– dormindo no mesmo quarto de alguém, dia e noite estendida em alguma cadeira. Essa pessoa vive sozinha? E se arranja uma paquera, que vai até sua casa, que vê aquele bonecão de borracha? Não é um simples vibrador que você coloca na gaveta (e que pode participar da brincadeira, inclusive).
Para parecerem reais, Olivia, Alicia e April são grandes e pesadas. Não dá para desmontá-la e jogá-la dentro do armário. Você tem de CONVIVER com ela. Mestres da sociologia e da psiquiatria, alguém me ajude a entender o que se passa na cabeça de alguém que quer um ser desse dentro de casa.
Será que, em breve, quando esses bonecos estiverem falando (há previsões de que em 2050 isso será uma realidade), vamos ter também que alimentar suas expectativas emocionais, dar ombro amigo, ouvir suas mágoas? E se eles inventam de se emancipar e querer direitos, receber salário, ter carteira assinada, comer da nossa comida, sair para jantar?
Vão se reunir em sindicato e vai ter até passeata na avenida Paulista, todos eles em cadeira de rodas empurrados por seus donos. Ou nesse futuro não tão distante eles também já vão estar andando, fazendo carga de energia elétrica no ponto de ônibus e traindo seu dono com outros bonecos e seres humanos? Você pagou US$ 6.000 e o seu boneco o trocou por outro… rssss.