Da série “lingerie”: um café após o almoço
Lingerie é um assunto vasto, diante de tantas opções existentes, e nós estamos nos perguntando faz tempo [talvez por toda a nossa vida sexual] o que usar ou não usar por debaixo da roupa. Eis que recebemos esse texto do nosso leitor Nilson e, com ele, vamos inaugurar a série “lingerie”. Se você tiver um texto que seja uma ode a ela ou exatamente o contrário, não deixe de nos escrever. E boa leitura!
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Há alguns meses viajei pela América Latina para um congresso de arquivologia. Como tinha um dia útil livre, resolvi dar uma caminhada pelo centro da cidade. Acabei tomando um café que nunca esquecerei.
Depois do almoço, a duas quadras da avenida principal, no prédio do comando do Exército, vi um café curioso. A placa dizia café/restaurante. A porta era coberta com uma imagem de uma moça de biquíni. Um papel na porta dizia “procuram-se moças maiores de idade para atender no balcão”.
O lugar era escuro, exceto por uma luz negra ao fundo. Os clientes ficavam em pé, e no meio corria um tablado por onde desfilavam quatro garçonetes – todas de lingerie. Apesar da belíssima vista, o som era hediondo, mas acho que ninguém vai lá ouvir música.
Diana (não é a coautora deste blog, suponho), 23, veio me atender. Uma morena mignon, corpo bonito emoldurado por calcinha e sutiã brancos que brilhavam roxo sob a luz negra. Pedi um café.
Enquanto Diana buscava o café, observei no balcão ao lado outro tomador de café sendo atendido no chão pela sua garçonete. Ela beijava seu pescoço e dançava junto ao seu corpo. Ao me trazer minha xícara, Diana perguntou se eu topava lhe pagar um suco. Claro, sem problemas. (Eu sabia que não era pelo suco –que afinal era água– e sim pelo papo.)
Enquanto ela buscava sua xícara de água, observei a barra ao lado. Agora, a outra garçonete – uma loira alta com cabelos encaracolados – dançava no ritmo da música (cumbia? Reguetón?), rebolando contra a virilha daquele senhor, de uns 50 e tantos anos. Na barra em frente, a garçonete estava sentada no colo do cliente.
Diana voltou com sua água, desceu e me abraçou. Enquanto eu a abraçava com minha mão boba, ela me contou um pouco de como funciona o trabalho de uma garçonete de lingerie. Ela entra pela manhã nesse lugar, que é pequeno, e serve café até 15h. De lá, vai para outra casa, maior, onde trabalha até as 10 da noite.
— E você só recebe quando bebe suco? — perguntei. Lógico que não.
Funciona assim: um café custa o equivalente a R$ 5. Cada “suco” custa R$ 10 e dá direito a alguns minutos de conversa agradável no chão, com direito a bolinar à vontade, ser estrategicamente bolinado e receber uma dança como a do coroa do outro balcão. Fica-se conversando durante quantos sucos se quiser.
Se a conversa esquentar, há locais mais reservados ao fundo onde as garçonetes podem levar os clientes. Aí, há três preços. Para ela caprichar com suas delicadas mãos, paga-se o equivalente a R$ 50. “Una mamada”, explicou, custa R$ 100. Mais do que isso, ao sabor da imaginação do freguês, R$ 150.
Como eu não conhecia a cidade, era meu único dia livre e na verdade só queria um café mesmo, fiquei com um café, dois sucos e um sorriso que demorou a tarde inteira para diminuir.