Sexo Triste
Por Diana
Tive que comprar o ingresso para aquele show de um cambista, a poucas horas do espetáculo, depois de vários dias de buscas em vão. Mas eu queria muito ir, apesar da tristeza de um coração que havia se partido em mil pedaços há poucos dias. Às 20h em ponto, armada apenas da minha vontade de mostrar pra todo mundo que eu não precisava de ninguém, lá fui eu, sozinha, sem maquiagem, sem salto alto e sem ânimo, só para ver a atração principal.
Comprei uma cerveja no bar e me encostei em uma pilastra, olhando o pessoal e esperando a banda começar. Lá fiquei, distraída, vendo casais, grupinhos e outros seres sozinhos (mas solitários não!) que passavam para cá e para lá. Tomei mais um gole e foi só a garrafa baixar que recebi o golpe. Lá estava ele.
Alto, bonito, ainda por cima sorrindo, vinha vindo me cumprimentar. Mas dor pequena é bobagem. Atrás dele veio a loira, que se postou bem na minha frente, com aqueles peitos fartos, empinados, alinhados perfeitamente na minha linha de visão. É claro que ela era linda e simpática. E ainda se chamava Marina, como a minha irmã, só para me impedir de fazer caretas eternas ao pronunciar esse (argh) nome.
Obviamente sorri, pensando na minha sandália baixa e amaldiçoando o batom que não passei. Conversamos sobre a banda, outros shows, o final de semana. Quando minhas entranhas já iam explodir, fui salva por um rapazinho qualquer, que chegou para paquerar a menina desacompanhada no show de rock. Pude, finalmente, dar as costas ao casal. Em cinco minutos me livrei do qualquer e mal cheguei ao banheiro antes de me acabar em lágrimas.
Nunca chorou em banheiro de show? Não sabe o que está perdendo. Dá para soluçar que ninguém escuta. Se molhar a blusa, também não tem problema. Finge depois que é agua, cerveja, vodka, qualquer coisa. Eu, porém, só choro em silêncio. Não sacudo, não respiro com dificuldade. Só a voz treme um pouco. Mas naquele dia não tremeu o suficiente para me impedir de ligar para a melhor amiga dali mesmo, olhando o vaso sanitário e ouvindo a banda começar.
“Não vai embora coisíssima nenhuma”, disse ela, que acompanhara a saga do ingresso. “Vai lavar o rosto, voltar lá pra dentro e achar outro cara.” Não sei o conselho foi bom ou ruim, mas naquele momento eu não tinha condições de avaliar nada. Obedeci.
De volta ao show, me muni do meu melhor olhar de lince, escaneei o salão e vi ali no canto direito um gatinho bem meu tipo. Não há salto ou rímel que sem comparem a uma mulher que quer seduzir: foi só ir lá dançar sozinha com a minha cerveja que o gatinho puxou assunto. E não é que ele era engraçado? Papo vai, papo vem, em meia hora eu já estava dançando nos ombros do gato, que, suado e sem camisa, começava a me dar um tesão danado.
Finda a última música, eu e o gato bebemos mais uma cerveja. “O que você vai fazer na quarta-feira?”, ele perguntou, com ótimas intenções. “Quarta-feira estou ocupada”, eu disse. “O que você vai fazer agora?” Deu certo. Saímos do show para um bar, e do bar para minha casa.
O gato era mesmo gato, divertido, um tesãozinho. Não fez nada sensacional, mas também não foi uma decepção. Eu, de minha parte, quis, sim, fazer sexo. Só para não pensar em nada, para adiar um pouquinho mais a inevitável visão da tal Marina, para colocar um band-aid no mini-trauma daquela noite o mais rápido possível. No mínimo, calculei, conseguiria adiar a dor até o dia seguinte.
Não deu certo. O gatinho dentro de mim e eu pensava no sorriso d’Ele quando me viu, completamente ignorante da contração no meu peito. O gatinho sorria e eu pensava no sorriso da Marina. Fiz tanta força para me concentrar na transa que só fiz isso o tempo todo – força para me concentrar.
Quando acabou, ele me abraçou e ficou fazendo cafuné por um bom tempo. Será que sentiu o que se passava? Segurei suas mãos, virei para o lado e tentei não respirar fundo. Finalmente ele adormeceu. Eu chorei ali mesmo, nos braços dele, com a cabeça virada no travesseiro.
Nunca dantes uma manhã testemunhara olhos tão inchados, mas foi bom. No fundo, eu precisava daquele sexo triste. Já era outro dia. Já não tinha mais choro, e loiras peitudas não importavam (muito) mais. Me levantei, fiz café para o gatinho (de despedida), passei um belo batom e fui checar a agenda dos próximos shows na cidade.