Por Dolores

Embora o querido leitor desconheça meu belo rosto, exceto por essa pouco reveladora imagem que acompanha meus textos aqui no blog, posso dizer que sou uma mulher bonita. Cabelos pretos na altura do ombro, um nariz destemido, altura mediana, costumo atrair certa quantidade de olhares quando adentro um lugar, e me agrada na mesma proporção o reflexo que vejo no espelho frequentemente.

Fã de selfies nas horas descontraídas do dia, durante um passeio, uma série na academia, um drinque na balada, sou também adepta de outra categoria das fotografias narcísicas – amo um retrato meu atuante na hora H.

Tiradas com meu celular e não compartilhadas com mais ninguém, nem com os atores coadjuvantes daquela sessão, as imagens que faço de mim mesma enquanto transo com meus parceiros servem a diversos fins da minha vida sexual.

Primeiro, aquecem o momento em si ao lustrar a alma exibicionista que todo mundo guarda dentro do peito. Ao posicionar o telefone de frente (e de costas, de joelhos, de quatro) para a trepada, focando não só nas fusões explícitas de membros, línguas e buracos, mas também nas nuances do suor e dos corpos em movimento, adiciona-se um terceiro elemento sem-vergonha e observador à diversão.

A quem nunca se viu em meio ao sexo via lente de uma câmera, recomendo. Tão ocupados que andamos com a comparação dos nossos corpos com os das outras pessoas, nos beneficiamos – e surpreendemos quase sempre – quando nos colocamos como estrelas de uma produção amadora, porém tão sensual quanto aquelas que muitas vezes usamos para nos excitar antes de uma punheta. É saboroso ver como podemos ser atrizes e atores pornôs para nós mesmos.

Por fim, o portfólio produzido em um dia vira, justamente, acervo para a posteridade. São incontáveis as vezes em que, sozinha e com tesão em casa, ao invés de prestar audiência aos outros eu opto por dar ibope a mim mesma, abrindo minha galeria secreta para relembrar os bons momentos e lubrificar a xoxota. Nos meus cliques, sou a rainha da putaria. Com eles, sou feliz.